C A H E R J

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Capelania Evangélica do Rio de Janeiro

domingo, 4 de setembro de 2011

Cristão no século XXI

Ser cristão no século XXI

por Luiz Felipe Pondé -   Um dos mo ti vos para ser cris tão hoje seria recuperar a sabedoria da tradição cristã anterior às manias e aos dogmas modernos. Ser cristão pode significar muitas coisas. Interessa-me, especifica- mente, o modo como o pensamento cristão se constituiu como crítica do dogma humanista da perfectibilidade. Acredito que a reflexão sobre o orgulho seja central na economia psíquica humana. E acredito ser essencial que resistamos às bobagens modernas que transformaram tudo em auto ajuda.
 Luiz Felipe Pondé leciona no Programa de Estudos Pós-graduados em Ciências da Religião e
do Departamen to de Teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), e é
professor e pesquisador convidado em Mística Medieval da Universidade de Marburg, Alemanha. Graduado em Medicina, pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), e em Filosofia Pura, pela USP, é mestre em 
História da Filosofia Contemporânea, também pela USP, e em Filosofia Contemporânea, pela Université de Paris VIII, França.

por Martin Dreher -  Sou cristão por que fui conquistado por uma criança com membros frágeis, que foi 
deitada em um cocho, pois não havia espaço para ela em sua sociedade. Não nasceu nem no palácio de Augusto nem no palácio de Herodes, mas entre os animais. Teve pai e mãe, mas precisou nascer na
margem da margem, em terra ocupada por estrangeiros, em aldeia insignificante, reverenciada por gente da margem: pastores e pastoras fedorentos e astrólogos nada ortodoxos. Sou cristão porque fui conquistado pelos membros frágeis do crucificado do Gólgota, que me ensinou a ter esperança e a depositá-la no Rei no de Deus, utopia que buscou concretizar em sua existência, lembrando as aves do céu, as raposas em seus 
covis, os lírios do campo, a semente que cresce enquanto dormimos, partilhando cinco pães e dois peixes 
e conseguindo saciar quem tinha fome, que soube devolver à mãe o único filho, amparo na velhice,
que soube devolver dignidade a excluídos. Com base nesses sinais, manifesto minha esperança no
Reino de Deus e procuro comunicá-los, mesmo que de maneira imperfeita e provisória. Estou
convicto de que eles são mais importantes do que ciência e técnica e que um mundo secularizado
carece, desesperadamente, deles.
Martin Dreher é graduado em Teologia, pela Escola Superior de Teologia (EST), e doutor na
mesma área pela Universität München, Alemanha, com a tese Kir che und De utschtum in der
Entwicklung der Evangelischen Kirche Lutherische Bekenntnisses in Brasilien.

Oncologistas se sentem despreparados para lidar com a morte


Oncologistas se sentem despreparados 
para lidar com a morte
                                                                                                                      Por agenusp@usp.br                                                                        

Estudo da psicóloga Lílian Cláudia Ulian Junqueira, desenvolvido na  Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, revelou que médicos oncologistas sentem a falta de abordagem das várias dimensões do ser humano no ensino de graduação. O estudo aponta que os médicos, apesar da marca positivista na formação, já enxergam além dos aspectos orgânicos do paciente. “Além da formação acadêmica, o profissional precisa entender a própria finitude para poder olhar as várias dimensões do paciente que vivencia sua terminalidade”, diz a pesquisadora.
Na pesquisa, orientada pelo professor Manoel Antônio dos Santos, da FFCLRP, Lílian entrevistou oito oncologistas. Para a coleta e análise dos dados utilizou o método fenomenológico, que se propõe a ir à essência das coisas, valorizando para tanto a descrição que cada participante do estudo oferece de suas vivências. Os resultados revelaram que os médicos têm uma abertura para a compreensão da experiência religiosa do paciente. No entanto, o fazem com muita dificuldade e ambigüidade quanto às condutas a serem adotadas, o que os faz transitar entre o cuidar autêntico e o inautêntico.
“Apareceram momentos em que eles se sentiram desconfortáveis ou mesmo irritados, por exemplo, quando o tratamento é preterido pelo paciente, que o coloca em segundo plano, justamente na hora em que se esperava adesão à terapêutica instituída. Nesses casos, as possibilidades de cura são delegadas a Deus. Nessa hora, o profissional se sente impotente e destituído de importância”, conta Lílian. “Em outros momentos, eles perceberam que o paciente necessita do movimento de se ‘religar’ com o transcendental, que a religiosidade propõe, lembrando aqui da origem etimológica do termo religião”.
De acordo com a psicóloga, os médicos contam que respeitam as crenças dos pacientes porque sabem que, com isso, conseguirão se aproximar deles e, assim, poderão levar o tratamento em paralelo à busca de apoio espiritual. “O médico percebe que a espiritualidade pode ser uma excelente aliada na luta contra as adversidades e o sofrimento, que são inerentes ao adoecimento por câncer”, acrescenta.
Sofrimento
Lílian aponta que o estudo procurou fornecer subsídios para o planejamento de intervenções terapêuticas e pode contribuir, principalmente, na aproximação com o paciente em situação de sofrimento. “Muitas vezes os profissionais, que estão numa posição de acolher tanta dor e sofrimento, não têm com quem compartilhar seus sentimentos. Não dispõem de um espaço formal para cuidarem de si”, alerta. “Por essa razão, eles apontam a necessidade  de maior atenção à dimensão psicológica do ser humano no currículo de  graduação em Medicina, o que é recomendado pela filosofia dos cuidados paliativos”.
Segundo a psicóloga, com o amadurecimento do profissional, por mais que ele traga a marca positivista da formação, acaba olhando o paciente como ser humano, um ser integral e, portanto, um ser de possibilidades. “A maioria tem uma família constituída, pratica alguma atividade de lazer, ou seja, vivencia outros aspectos da vida, o que é fundamental para que enxergue também outras dimensões no paciente”, afirma.
Lílian observa ainda que o aprofundamento contemporâneo da questão da bioética, também fez surgirem muitas dúvidas e o próprio médico não tem um parâmetro claro dos limites, ou esses limites não estão tão claros. “O médico, no decorrer de sua formação e de sua prática, exercita forte obstinação terapêutica”, ressalta. “Mas, se ele começa a pensar na sua própria finitude, automaticamente vai pensar no outro, no que é morrer  bem, do ponto de vista biopsicossocial e espiritual”.
Essas questões são abordadas em profundidade na disciplina O Câncer, a Morte e o Morrer, oferecida anualmente pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia, da FFCLRP.Os resultados da pesquisa serão apresentados ainda este mês para obtenção do título de mestre junto ao Programa de Pós-graduação em Psicologia da FFCLRP. Os resultados preliminares do estudo, no entanto, já foram premiados, em agosto, no X Congresso da Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia e III Encontro Internacional de Psico-Oncologia e Cuidados Paliativos, realizados em Fortaleza, Ceará. A pesquisadora recebeu o primeiro lugar entre as comunicações orais e obteve a segunda colocação entre os pôsteres apresentados.
Para o orientador da pesquisa, os prêmios recebidos significam o reconhecimento da área de Psico-oncologia e revelam a necessidade de novas pesquisas para desvelar as percepções de um profissional que é chave nos serviços de saúde e que ainda ocupa uma função crucial dentro da assistência em oncologia, mesmo em época de multi e interdisciplinaridade. “Cuidar transcende o simples tratar, pois abarca, além das dimensões físicas, as demandas emocionais, espirituais, sociais, culturais e éticas do doente”, ressalta Manoel Antônio dos Santos. “Cuidar de alguém que vivencia sua finitude exige uma assistência que não seja centralizada nas necessidades físicas e no alívio da dor somente, mas que tende a ver a integralidade do ser, em seu caráter de impermanência”.

                             (Fonte: Rosemeire Soares Talamone, do Serviço de Comunicação Social da Prefeitura do Campus de Ribeirão Preto)
                                                                                                          http://www.usp.br/agen/?p=6215
                                                                                                           Publicado em 16/setembro/2008
                                                                            masantos@ffclrp.usp.br