C A H E R J

C A H E R J
Capelania Evangélica do Rio de Janeiro

quinta-feira, 30 de maio de 2013

O PERFIL DO CAPELÃO EVANGÉLICO

O PERFIL DO CAPELÃO EVANGÉLICO

Capelão Washington Campello
e-mail:wluis.campello@ig.com.br
washington.campello@gmail.com
Qualidades Principais:

A) Vocação (Chamado)     Vocação = Amor

No contexto do Reino de Deus todo o verdadeiro discípulo de Jesus Cristo é vocacionado à santidade, a comunhão e ao serviço, e o que ele é, tem e faz deve ter como propósito último a glória de Deus
(1 Co. 1.2, 9; 4.1;   Ef. 1.11,12;   1 Co 10.31).

Chamado: tem que estar em um momento de minha vida, Deus chama e continua chamando. Vocação não se adquire, recebe-se.
Vocação: produzida no seu coração e testificada em outras pessoas e, muita das vezes não tem ordem, pode falar primeiro em você ou não.

(João 20:21) “Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio a vós
Fomos enviados para que nos identifiquemos com outras pessoas, pois de fato o que Jesus fez foi se identificar conosco assumindo nossos pecados, experimentando nossa fraqueza, sendo tentado e morrendo a nossa morte. Somos enviados pôr Cristo para encarnar as necessidades das pessoas, necessidades espirituais e materiais num mundo cada vez mais hostil.

Somos chamados a exercícios superiores da vida cristã: ser crucificado para o mundo, viver pela fé, fazer trabalho de anjos, amar a Deus, ser membros vivos de seu louvor, manter comunhão com o Pai e com o Filho

(1Jo 1.3). “sim, o que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que vós também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo.”

 (Fp 3.14) "Prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus"

Você é chamado a servir
(1 Pe.4.10,11) 10 servindo uns aos outros conforme o dom que cada um recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. 11 Se alguém fala, fale como entregando oráculos de Deus; se alguém ministra, ministre segundo a força que Deus concede; para que em tudo Deus seja glorificado por meio de Jesus Cristo, ma quem pertencem a glória e o domínio para todo o sempre. Amém.

Você é chamado a servir:
- Segundo o seu dom;
- Os outros;
- Com fidelidade;
- Reconhecendo e valorizando a diversidade;
- Na força de Deus;
- Para a glória de Deus






B)Dom da Misericórdia

(Rm 12:6-8 NVI  "Temos diferentes dons, de acordo com a graça que nos foi dada. Se alguém tem o dom de profetizar use-o na proporção da sua fé. Se o seu dom é servir, sirva; se é ensinar, ensine; se é dar ânimo, que assim faça; se é contribuir, que contribua generosamente; se é exercer liderança, que a exerça com zelo; se é mostrar misericórdia, que o faça com alegria.

Definição: O dom de misericórdia é a capacidade de sentir e expressar compaixão e solidariedade incomum para com aqueles em situações difíceis ou de crise e lhes proporcionam a ajuda e apoio necessários para atravessar tempos difíceis.

Pessoas com o Dom de Misericórdia: Eles têm a capacidade de "se colocar na situação de outros" e de sentir a dor e o fardo que eles carregam. Eles desejam fazer uma diferença na vida de pessoas que sofrem sem serem críticos. Eles podem ter dificuldade de avaliar as intenções dos outros e por vezes parecem ingênuos.


C)Boa Saúde
“Devemos também considerar, com a mesma ênfase, a boa saúde  psicológica. Existem vários problemas psicológicos, de temperamento e de personalidade, que podem ser grandemente negativos no trabalho com pessoas enfermas”.


D)Vida Espiritual Verdadeira

“Jamais o coração humano conhecerá a felicidade enquanto não se submeter para ser moldado pelo Espírito Santo de Deus”.  Review and Herald

Identidade:  (Atos 27:23-24a) “Porque, esta mesma noite, um anjo de Deus, de quem eu sou e a quem sirvo, esteve comigo, dizendo: Paulo, não temas!”   A sua identidade não é atribuída por consideração externas, mas sim pelo seu relacionamento com Deus”

Experiência:  (II Cor. 1.3-4)  “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdia e Deus de toda consolação! É ele que nos conforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar os que estiveram em qualquer angústia, com a consolação com que nós mesmos somos contemplados por Deus”.



Deus vai mandar crise como elemento de crescimento.
É necessário perceber quando está chegando.

Oséias 6.1 e 2 v.1 “Deus nos despedaçou e nos sarará; fez a ferida e a ligará.” 
V.2 “depois de dois dias, nos revigorará, e viveremos diante dele”.

(Lc24.46) “E disse-lhes: Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressuscitasse dentre os mortos,...”

(I Co 15.4) “E que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras”



E)Estudioso – vida de permanente capacitação.
     Em algumas pessoas Deus capacita antes da chamada. Uma carreira de capacitação sempre.  Aprendemos a conhecer a Deus e também sobre a natureza humana ( Hb 5 – o sumo sacerdote é tirado do povo, não somos melhor que ninguém).
     No processo da capacitação aprendemos com o ministério (Igreja). No decorrer do tempo vamos encontrar pessoas que se tornaram professores, capacitação formal (acadêmico), congresso, busca de leitura. Vai depender de sua busca continua.
     Onde você andar olhe de maneira sempre interessada para aprender sempre algo.

Aplicar-se ao conhecimento das escrituras:
Col. 3.16 “... a palavra de Cristo...” = criar raízes
Mat. 22:29  repondeu Jesus: “ Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus.”
Oséias 6.3 “ Conheçamos e prossigamos em conhecer o Senhor...”

F)Flexível na forma de Pensar
Heb. 5.14 – crecer no discernimento

G)Paciente

Rom.12:11 “... regozijai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, na oração, perseverantes;...”

Rm 5.4 “A paciência produz experiência e a experiência a esperança.”
Na língua grega, a palavra “perseverança” pode também ser traduzida por paciência, persistência, constância. Essas são algumas características que se apresentam no homem maduro, que se mantêm leal à sua fé e aos seus propósitos mesmo quando está debaixo das maiores tribulações ou sofrimentos. Em geral, não crescemos quando estamos em plena calmaria de problemas. Em todos os ramos, o desenvolvimento aparece em hora de crise ou sofrimento.

Livro:“O Poder da Pressão.  Watchman Nee
Eis um segredo espiritual pouco conhecido: Deus não responde as orações de Seu povo removendo as pressões, mas aumentando-lhes a capacidade de suportá-las e vencer os desafios.

Peter Drucker: (inspiração de Rick Waren)  “A tarefa mais importante do líder de uma organização é prever a crise... Não evitá-la, talvez, mas se antecipar a ela”. ...


H)Auto Controle (Equilíbrio Emocional)
                                    
É decisivo perceber que, se o profissional perde o equilíbrio emocional diante dos "entraves" que a vida possa lhe oferecer, além de se sentir sem força interior para enfrentar tais problemas, sua mente estará literalmente bloqueada, impedindo-o de pensar, raciocinar e analisar tal questão; logo, dificilmente, o problema será resolvido.

Equivale salientar que, ter a sabedoria de como lidar com os problemas, pessoas, pressões, prazos e metas constituem hoje um grande desafio.

Isto posto, é importante compreender que autocontrole e maturidade andam de mãos dadas. Todos os nossos comportamentos e atitudes são norteados pelo autocontrole quando se tem certa maturidade; logo, obtém-se o equilíbrio emocional em meio a quaisquer circunstâncias da vida.


I)Asseio

Não vá a um hospital sem antes ter cuidado com o asseio pessoal.
APRESENTAÇÃO PESSOAL; Cuidado com asseio pessoal e vestuário. Apresentação de modo geral. Veste-se adequadamente para o cargo que ocupa. É asseado.
A apresentação pessoal correta e adequada.

J)Pessoa de Oração

Livro: Igrejas que oram.  Peter Wagner “ Nos momentos de calamidades as pessoas estão propensas a ouvir Deus.”

Rom.12:11 “... regozijai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, na oração, perseverantes;...”


L)Preparo Técnico

Fp. 1.9-10
crescer no conhecimento teológico teórico, mas também no prático


CAHERJ  -   Capelania Hospitalar Evangélica do Rio de Janeiro

e-mail: acaherj@gmail.com.br                site: caherj.blogspot.com

VIDEO CAHERJ - CAPELANIA HOSPITALAR


VÍDEO CAPELANIA RJ - CAHERJ


Projeto mãos e coração


VERSÍCULOS DE CONFORTO E CONSOLO PARA SEREM DISTRIBUÍDOS EM HOSPITAIS (sugestão)

VERSÍCULOS DE CONFORTO E CONSOLO
PARA SEREM DISTRIBUÍDOS  EM  HOSPITAIS 

     -  “Em ti, pois, confiam os que conhecem o teu nome, porque tu, Senhor, não desamparas os que te buscam.”
           Salmos 9:10.

     -  “Guarda-me, ó Deus, porque em ti me refugio. Digo ao Senhor: Tu és o meu Senhor; outro bem não possuo, senão a ti somente.”
           Salmos 16:1, 2.

     -  “Mostra as maravilhas da tua bondade, ó Salvador dos que à tua destra buscam refúgio...”
           Salmos 17: 7.

     -  “O caminho de Deus é perfeito; a palavra do Senhor é provada; ele é escudo para todos os que nele se refugiam.”
           Salmos 18: 30.

      -  “Uns confiam em carros, outros, em cavalos; nós, porém, nos gloriaremos em o nome do Senhor nosso Deus.”
            Salmos 20:7.

      -     “Ao meu coração me ocorre: Buscai a minha presença; buscarei, pois, Senhor, a tua presença.”
               Salmos 27:8.

       -  “Espera pelo Senhor, tem bom ânimo, e fortifique-se o teu coração; espera, pois, pelo Senhor.”
             Salmos 27:14.

        -  “Sede fortes, e revigore-se o vosso coração, vós todos que esperais no Senhor.”
               Salmos31:24.

         -  “Eis que os olhos do Senhor estão sobre os que o temem, sobre os que esperam na sua misericórdia.”
               Salmos 33:18.

           -  “Nele, o nosso coração se alegra, pois confiamos no seu santo nome.”
                 Salmos 33:21.



CAHERJ  -   Capelania Hospitalar Evangélica do Rio de Janeiro

e-mail: acaherj@gmail.com.br                site: caherj.blogspot.com


Luto – Que dor é essa?

Luto – Que dor é essa?
Andréia Roos

Tristeza... Dor... Sofrimento... Faz pensar. Inquieta-nos. Remete a desafios, a enfrentar, a lutar, a crescer, a ser.
Mas isto não é tão simples assim.

Ser implica em movimentos de renúncia onde a inevitável dor faz parte da condição humana; mas também envolve ganhos, possibilidades, crescimento. Se prestarmos atenção é comum ouvirmos uma criança evocar o desejo de ser grande.

Desajeitado no caminhar, de repente o menino aparece com um calçado muito maior que seu pé: é o chinelo do pai; a menina aparece borrada de batom carregando uma bolsa arrastando no chão, experimentando ser como a mãe. Desejar ser grande, crescer, reconhecer-se como um sujeito separado, diferenciado, com possibilidade de escolhas instiga e convoca a desinvestimentos, desligamentos e substituições.

São movimentos lentos, peça por peça como um quebra-cabeça que se desmonta e se volta a montar. A condição da existência humana implica desligamentos, renúncias, e neste sentido podemos dizer que envolve um trabalho de luto.

O que é o luto? De maneira geral expressa a reação à perda de uma pessoa querida. Ao refletirmos essa palavra, veremos que em espanhol significa duelo. Nos faz pensar em luta, combate, mas também em DU – ELO, marcando, acentuando a existência de um elo, de uma ligação, de uma relação entre duas pessoas.

No luto, ao perceber que a pessoa querida não existe mais, o sujeito inicia um processo de desligamento. Esse desligamento, renúncia não é realizado sem obstáculos, sem resistência, causa um grande sofrimento para a pessoa.

E acometidos, tomados por essa dor, à energia se volta para elaboração do luto. É assim que diante da morte de uma pessoa querida, a energia que antes era dirigida ao trabalho se volta para essa dor; havendo então por um período temporário uma inibição, perda de interesse pelo mundo externo para elaboração luto.

Há uma entrega ao luto, ao combate desse elo que consiste em desatar essa ligação até o momento em que se possa investir em novos projetos e interesses. Essa retirada da libido, essa renúncia não é um processo que pode ser realizado num momento. É um processo lento, vagaroso, gradativo. A dor transforma-se em saudade...

No mundo atual, as dificuldades de enfrentar as dores da vida, o sofrimento, a tristeza, a renúncia se tornam cada vez mais comuns. Muitas vezes percebemos uma necessidade nas pessoas em uma busca frenética por alternativas que servem para "amortecer", para "aplacar" essas dores, como por exemplo, o consumo desenfreado de roupas, carros ou até mesmo de drogas. Os sentimentos não deixam de existir. E então? Pensar... enfrentar... olhar... peça por peça, montar e desmontar encaixando as "peças" na cabeça.

Publicado em 21/12/2004

Andréia Roos - Psicóloga
Projeto - Associação Científica de Psicanálise - Passo Fundo - RS

Questionário ajuda a enfrentar o luto

comportamento
Questionário ajuda a enfrentar o luto
Pesquisadora da UnB cria instrumento para avaliar situação
de pessoas que perdem amigos e parentes
Ilustração: Apoena Pinheiro/UnB Agência
Enfrentar a morte de uma pessoa querida é uma das provações mais difíceis por que alguém pode passar durante a vida. Nesses momentos, qualquer ajuda é bem-vinda – ainda mais se for especializada. Pena que, no Brasil, os enlutados têm poucos especialistas a quem recorrer. Isso é o que afirma a pesquisadora Cristina Marcos de Moura, autora da dissertação de mestrado Uma avaliação da vivência do luto conforme o modo de morte, orientada pelo professor Marcelo Tavares e defendida em janeiro de 2007 no Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB). De acordo com a psicóloga, o assunto ainda é tabu por aqui.
Preocupada em ajudar indivíduos que perderam parentes ou amigos, a psicóloga adaptou o Questionário de experiência de luto (Grief Experience Questionnaire GEQ) para a realidade brasileira e o aplicou em alguns enlutados. O instrumento Entrevista de Avaliação de Luto é composto por 55 itens que representam 11 dimensões do luto, como busca por explicações, vergonha, rejeição e sentimento de culpa.
A entrevista considera três tipos de morte: naturais/esperadas, inesperadas/acidentais e por suicídio. Cristina pretendia aplicar o questionário brasileiro em pelo menos 300 voluntários, para que ele fosse validado e, na seqüência, aprovado pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP). Mas enfrentou muita dificuldade para encontrar pessoas interessadas em ajudá-la. Por isso, optou pelo estudo qualitativo.
Ela entrevistou 13 pessoas (nove mulheres e quatro homens), entre 20 e 70 anos. A idade dos falecidos variava de 22 a 98 anos e a aplicação dos questionários ocorreu entre cinco meses a um ano e três meses dos óbitos. Seis dos participantes estavam de luto por morte natural (parada cardíaca e tuberculose, por exemplo), três por morte inesperada (como acidente de carro e acidente vascular cerebral) e quatro por suicídio.
Os indivíduos responderam a perguntas referentes ao que eles sentiam em relação ao parente/ amigo morto, a estratégias que eles adotaram para superar a dor e ao modo como avaliavam as circunstâncias da morte. As respostas permitiram à pesquisadora identificar padrões de comportamento para cada tipo de enlutado. Quatro dos participantes relataram ter vomitado logo depois de receber a notícia da morte. Sintomas como ansiedade, sentimento de vazio e irritação também são recorrentes.
“Algo que costuma acontecer, independente do modo de morte, é o isolamento do enlutado”, afirma Cristina. “Isso acontece devido à tristeza que ele sente, à perda de interesse em qualquer coisa que não se refira ao ente querido morto”, continua. Esse isolamento, explica a psicóloga, é natural e faz parte do processo de luto. É um tempo em que o enlutado recorda momentos que passou ao lado do ente querido, olha fotos e pensa em como será sua vida dali para frente. Nos casos de mortes naturais e esperadas, as pessoas se isolam pela tristeza, por sintomas de depressão. Elas têm medo de levar a dor para os parentes.
É por isso que a psicóloga defende a existência de grupos de apoio a enlutados. “Nós não somos preparados para esperar a morte, nem a nossa nem a do outro. Somente no último semestre houve registro, no Brasil, de iniciativas isoladas de estabelecimento de grupos de suporte a enlutados por suicídio”, comenta a pesquisadora. “Os profissionais de saúde precisam conhecer o processo de luto. É assim que se evita a consolidação de quadros depressivos, que podem gerar até tentativas de suicídio entre enlutados”, aconselha.
ALÍVIO – As entrevistas de Cristina identificaram um novo componente no luto dos voluntários. O alívio, componente que pode ajudar na superação da tristeza, foi relatado nos enlutados por mortes inesperadas e morte esperada. Alguns deles se disseram confortados, nos casos de acidentes, por saber que o parente não ficaria inutilizado pelo resto da vida.
Quando a morte é esperada, a idéia de que o morto “descansou” é recorrente. Nesse tipo de luto a tristeza pode ser resolvida de dois meses a um ano. Em casos de suicídio o tempo médio é de dois anos. “Mas se a pessoa receber ajuda, ela elabora o luto de forma mais rápida e saudável, com o mínimo de sofrimento possível”, garante a psicóloga. Além do mais, a idéia da morte também passa pela cabeça dos familiares de suicida, e o auxílio aos chamados “sobreviventes do suicídio” pode evitar outras mortes.

CONTATO
Pesquisadora Cristina Marcos de Moura pelo e-mail cristina_mmoura@yahoo.com.br

Quando as esperanças se renovam ante a perda e o luto

http://www.redenacionaldetanatologia.psc.br/Artigos/materia_04.htm

Quando as esperanças se renovam ante a perda e o luto
Diário do Nordeste – 08/05/2005
“Trabalhar com morte e luto é lidar com emoções”, afirma o psicólogo Aroldo Escudeiro, do Centro de Estudos em Tanatologia e Psicologia. Ele foi um dos palestrantes do III Congresso Brasileiro de Tanatologia e Bioética, realizado no último final de semana, em São Paulo, onde participou do Simpósio “Trabalhar com morte e luto hoje”. Juntamente com Ingrid Esslinger, do Laboratório de Estudos da Morte, do Instituto de Psicologia da USP, e Ester Passos Affini, do Grupo Ipê de Estudos sobre Perdas e Apoio a Pessoas Enlutadas, ambas da USP, Escudeiro compartilhou a rica experiência vivenciada pelos profissionais que lidam com os diferentes tipos de perdas e luto. “Como cuidadores devemos estar preparados para este enfrentamento e cuidarmos também de nossas questões pessoais em relação à morte e às nossas perdas, para que possamos cuidar bem de nossos pacientes”. Como lidar com a perda, seja ela concreta (morte) ou simbólica (separação), é uma tarefa árdua para todos já que difícil quantificar a dor que o outro sente. O psicólogo cearense indica os vários caminhos, através da literatura e do cinema, para que possamos entender a linha tênue que aproxima a vida e a finitude.
Diário do Nordeste Amor e perda é sempre uma relação difícil de ser trabalhada. No caso específico da mãe que perde o filho; e do filho que perde sua genitora, como tratar o luto?
Dr. Aroldo Escudeiro O enlutado por qualquer tipo de perda deve ter a mesma atenção e cuidados por parte de quem o acompanha, seja o terapeuta, a família ou a sociedade. Perda significa privação e qualquer pessoa que passe por uma privação sente-a como a pior dor do mundo. Não podemos mensurar a dor do outro. Em qualquer tipo de perda, seja ela concreta (morte) ou simbólica (separação), é muito difícil quantificar a dor que a pessoa sente. No caso específico da perda de um filho, em minha prática e também segundo a literatura, o processo do luto é mais delicado pois a lei natural nos mostra que o mais freqüente é os filhos enterrarem os pais. Quanto a perda da mãe, por parte do filho, as conseqüências em relação ao processo do luto vai variar conforme a idade desse filho. É certo que para qualquer filho em qualquer faixa etária, a perda mais difícil de enfrentar é a da mãe e por vezes a do pai. Quando se tem um filho a situação se inverte. Se a perda é obsetal o luto tem grande probabilidade de provocar um quadro depressivo na fase adulta. O luto pressupõe sofrimento. O difícil para quem o vive é expressá-lo devido a interdição cultural e social.

Como deve acontecer este ´desapego” ?
Dr. Aroldo Escudeiro- O ideal é que a pessoa se desapegue em vida de tudo e de todos. Coisas e pessoas. Afinal, estamos aqui de passagem e tudo nos é emprestado - até os filhos e os pais. Como a morte é para quem fica, após a perda de alguém significativo devemos vivenciar o processo do luto. Bowlby nos fala de fases desse processo. A primeira, o entorpecimento, a sensação de torpor nos defende por algumas horas. A segunda, o anseio e busca da figura perdida que dura meses e anos. É comum e natural o enlutado vê sinais da pessoa falecida em tudo. Ele escuta a voz do morto o chamando, sente o cheiro, sonha muito freqüentemente, escuta passos e tem a impressão de que o morto está presente. A terceira é a desorganização e desespero, o momento de enfrentamento da realidade, o que é muito difícil para a pessoa que perdeu. A quarta fase é a reorganização pois a natureza é sábia e não nos deixa na mão. É o momento de resignificar a vida. Adotar novos papéis.Worden nos fala em tarefas. A primeira é aceitar a realidade; a segunda é trabalhar a dor da perda; a terceira se adaptar ao local onde vivia com a pessoa falecida e a quarta é reposicioná-la em termos emocionais. Isso significa se dar o direito a outras experiências afetivas.

Quais as últimas pesquisas sobre os aspectos psicológicos do luto?
Dr. Aroldo Escudeiro- Alguns trabalhos sobre aspectos psicológicos do luto foram lançados no III CBTB. Entre eles: “Luto materno e psicoterapia breve”, de Meliklix Freitas (Summus Editorial); “Grupo de suporte ao luto”, de Evaldo D´Assumpção (Paulinas); “Luto na infância”, de Luciana Mazzora e Valéria Tinoco (Livro Pleno); “Dor sileciosa ou dor silenciada”, de Gabriela Casellato (Livro Pleno); e “A criança e a morte”, de Wilma Torres (Casa do Psicólogo).
Quais as mais esperadas e inesperadas reações frente à perplexidade que a morte pode nos causar?
Dr. Aroldo Escudeiro- As reações mais esperadas frente a morte são: entorpecimento, estarrecimento, ilusão, desespero, descrença. As inesperadas podem levar a confusão mental, depressão, reações psicossomáticas e até surto psicótico.


Morte não é castigo - A psicóloga Maria Helena Bromberg desvenda os tipos de perdas e diz que a cultura ocidental estimula a idéia do fim da vida como punição

Morte não é castigo
A psicóloga Maria Helena Bromberg desvenda os tipos de perdas e diz que a cultura ocidental estimula a idéia do fim da vida como punição
 Isto é, revista   Nº 1541 – 14 de abril de 1999
JANETE LEÃO FERRAZ
Primeira brasileira a tornar-se mestra e doutora em psicoterapia de pessoas enlutadas, a psicóloga Maria Helena Bromberg, 48 anos, até há pouco tempo era vista por pacientes e até colegas como uma espécie de "Mortícia Adams". Ela se dedica há uma década à pesquisa sobre a morte e suas consequências nos vivos. Professora da disciplina Luto e Morte na Família e orientadora do pós-graduação de Psicologia da PUC de São Paulo, ela dirigiu a clínica Ana Maria Popovic, também da PUC, onde criou o Laboratório de Estudos e Intervenções Sobre o Luto (LELu). Para ela, não é somente a morte que causa a dor do luto. "Nos enlutamos diante de pequenas perdas ao longo da vida, a começar pelo desmame de nossa mãe", explica. Maria Helena é discípula do terapeuta inglês Colin Murray Parkes, a maior autoridade em pesquisas sobre luto no mundo, cujos livros só podem ser traduzidos para o português por ela. Autora de A psicoterapia em situações de perdas e luto, Maria Helena também trata "lutos" por aposentadoria, imigração, amputação e aborto. Hoje dedica-se também à pesquisa sobre o luto coletivo, seja por morte de ídolos ou pela violência que vem tornando os cidadãos cada vez mais enlutados. Ela reconhece que não é fácil, mas há saídas. "É possível conviver com os lutos e ser feliz", acredita.
ISTOÉ – Por que a sra. se especializou nesse assunto?
Maria Helena Bromberg Comecei a me perguntar por que as pessoas são tão apegadas a ponto de não sobreviver à morte ou à perda de alguém. Perdi minha mãe quando era pequena, um irmão já adulta, a quem eu era muito apegada. E, recentemente, minha irmã. Tenho um histórico respeitável.
ISTOÉ – Estudar a morte lhe deu preparo para enfrentar as perdas?
Maria Helena – A saudade dói do mesmo jeito, mas tenho um conforto porque, quando enfrentamos a morte, aprendemos a aproveitar melhor a convivência em vida.
ISTOÉ – Por que as pessoas temem esse assunto?
Maria Helena – É a única certeza que se tem, mas nossa cultura não incorpora a morte como parte da vida. Pensa-se nela como castigo e é comum ouvirmos comentários como: "Ele era tão bom, por que morreu?" Morte é afastamento, silêncio, nunca mais.
ISTOÉ – Em que idade nos damos conta de que a morte é inexorável?
Maria Helena – Desde que nascemos sofremos perdas e lutos, não necessariamente ligados a mortes. A psicanálise acredita que a criança vive seu primeiro luto ao ser desmamada pela mãe. Depois, ouve ameaças de perdas como "Mamãe vai embora", "Você vai ficar de castigo". Há semelhança da ausência, da falta, com o final da vida.
ISTOÉ – Somos ensinados a não considerar a morte como fato?
Maria Helena –
Na cultura ocidental sim. Talvez por conta do pecado original. Pressupõe-se que se fez algo horrível e a morte é a punição. Adão e Eva, depois de cederem ao pecado, foram castigados tornando-se mortais. Há ainda o medo do desconhecido. Pacientes terminais querem saber o que vai acontecer quando a vida acabar. Os que se apóiam em alguma crença se sentem de alguma forma amparados.
ISTOÉ – Quais são as outras perdas que geram o luto?
Maria Helena – Toda perda gera luto. O divórcio, a aposentadoria, a imigração, a mutilação, o aborto, a menopausa, a impotência.
ISTOÉ – Por que a imigração?
Maria Helena – As pessoas chegam a um novo lugar, perdem suas raízes, sua identidade e sua independência. Estamos estudando o comportamento dos dekasseguis, quando voltam ao Brasil. Há muitos traumas.
ISTOÉ – Que tipo de luto gera a aposentadoria?
Maria Helena – A perda da identidade. O aposentado perde a área de influência. A casa funcionou durante 30 anos sem que ele desse palpites. No começo é uma lua-de-mel. A pessoa fica exultante e diz que agora vai viver. Engana-se. Atuava no trabalho, não atua mais. Em casa, ninguém o ouve. Então vai jogar dominó. É comum adoecer.
ISTOÉ – E por amputação?
Maria Helena – Causa reações variadas. No amputado falta literalmente uma parte. Ele tem que fazer uma transição para se aceitar sem aquele pedaço.
ISTOÉ – O velejador Lars Grael, que sofreu a amputação de uma perna, evitou o luto?
Maria Helena – Pela imprensa, notei que a coisa mais importante no processo dele foi a luta pela sobrevivência. Ele permanece ativo, que é uma forma de não ficar velando a perda. Avaliamos uma tese sobre amputação, que concluiu que o desafio é se adaptar à prótese. Há lutos complicados em acidentados que não podem usar próteses ou que ficam paraplégicos.
ISTOÉ – Qual é o medo maior, morrer ou perder alguém?
Maria Helena – Difícil dizer. Quando uma mãe diz que morreria no lugar do filho, não pensa que se fosse ela o filho sofreria. Além do temor, há culpas, ressentimentos, medo do futuro sem a pessoa. São emoções ambíguas, impasses.
ISTOÉ – Por que muita gente adoece por luto?
Maria Helena – Por conta das ocorrências psicossomáticas. As manifestações mais frequentes são os distúrbios de sono e de alimentação. Depende do grau de enlutamento. Do que afeta no cotidiano. Alguns enlutados não conseguem mais trabalhar. Outros, apresentam distúrbios de atenção e memória. Há pessoas que ficam suscetíveis a acidentes. Crianças podem apresentar problemas na escola.
ISTOÉ – O temor da morte tem idade?
Maria Helena – Não. Todos tentam evitar o assunto, até discriminam. Inúmeras vezes pessoas me olharam como se eu fosse uma pessoa nefasta. Pensam que sou gótica, dark. Mas não sou nada disso. Sou uma pessoa normal.
ISTOÉ – Criança lida melhor com o luto?
Maria Helena – Pode ser, mas é necessário que ela conceitue o que é morte. Absorva aspectos como universalidade. Ou seja, todos vamos morrer. Também a irreversibilidade: quando morre, não "desmorre". E por último a causalidade. Isto é, morreu porque aconteceu alguma coisa. A criança consegue integrar isso no começo da adolescência. Antes, ela pode achar que rezando a pessoa desmorre. Ela tem exemplos nos desenhos animados ou joguinhos virtuais. Seus heróis têm muitas vidas. É importante dizer à criança que o jogo é legal, mas não é real. Os adultos não favorecem essa percepção e preferem evitar o assunto.
ISTOÉ – Por que o adulto faz isso?
Maria Helena – Muitas vezes por medo ou por não saber o que dizer. Ele pode estar enlutado também. Se há uma perda na família, a criança tem que ser comunicada. Para o adulto fragilizado, falar é difícil. Na percepção global, morte é uma coisa não cotidiana, e o adulto tende a achar que não é assunto de criança. Mas ela quer esclarecimentos.
ISTOÉ – Esclarecer torna a criança mais preparada?
Maria Helena –
Sim. O adulto tende a subestimar as perdas infantis. A queda do sorvete ou a quebra do brinquedo, em termos de dor, é incomparavelmente menor frente à perda de alguém querido, mas é uma situação que faz a criança pensar sobre limites, frustração e reversão de expectativa.
ISTOÉ – Qual o pior tipo de luto?
Maria Helena – Há quatro aspectos: a pessoa que morreu, o tipo de morte, o suporte psicossocial que o enlutado tem e a sua estrutura psíquica. Se tem histórico de perdas, os problemas psíquicos podem incapacitá-lo para enfrentar mais essa. Julga-se que o luto mais difícil é o da morte de filho por suicídio. Mas como diz a música de Caetano Veloso, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é.
ISTOÉ – A morte de um bicho de estimação pode ser tão devastadora?
Maria Helena – Pode, só que aí entra na categoria de luto não franqueado. Esse luto espanta. "Onde já se viu chorar tanto por um cachorro. Se ainda fosse um filho vá lá", costumam dizer.
ISTOÉ – Há outros lutos assim?
Maria Helena – A perda do parceiro por Aids também não tem receptividade. Morte do ou da amante. O aborto (provocado ou não), que é visto como um não evento.
ISTOÉ – Como assim?
Maria Helena – No aborto não aconteceu o nascimento nem a morte convencional. A reação das pessoas é minimizar a perda. Falam: "Não se preocupe, logo você tem outro." Fizemos uma pesquisa com 60 mulheres adultas que tinham abortado na adolescência. Isso redundou até em esterilidade. A mulher pode ter um trauma psicológico e não engravidar novamente.
ISTOÉ – O luto não autorizado influencia a futura mãe?
Maria Helena – Sem dúvida. Atendi uma família que trouxe a filha adolescente para a terapia por achar que ela estava rebelde. Na entrevista com mãe e filha ficou clara a dificuldade de relação entre elas. A mãe não se sentia confortável. Superficialmente, pareciam conflitos típicos de adolescente, mas havia algo mais. O segredo era um aborto que a mãe fizera antes de a menina nascer, um luto que a mãe carregava ainda.
ISTOÉ – E como tratar isso?
Maria Helena – Mais profundamente com a mãe. Ao fim ela resolveu revelar o segredo e livrou-se do peso. Parece mágico, mas não é. Foi um processo longo e doloroso para ambas, o que dá para dimensionar como a coisa se arrasta.
ISTOÉ – Existe um tempo padrão para superar o luto?
Maria Helena – Essa é uma questão temerária. Pode-se achar que morrer ou perder alguém acontece numa boa porque o tempo é o melhor remédio.
ISTOÉ – E não é?
Maria Helena – O tempo ameniza a dor, mas também é capaz de gerar um luto crônico. O que poderia ser uma passagem de um estado para outro, pode permanecer na tristeza. No luto crônico, quanto mais o tempo passa, pior fica. É também chamado de luto complicado.
ISTOÉ – Há mais tipos de luto complicado?
Maria Helena – Tem o adiado, aquele que a pessoa diz que está bem, não encara o sofrimento, chega a ficar eufórico. Um dia morre o peixinho da irmã da vizinha e ela desaba.
ISTOÉ – Não existe o luto adiado para sempre?
Maria Helena – Não. As pessoas têm que realizar suas perdas. Há um estudo feito na Inglaterra, a partir dos prontuários de pacientes psiquiátricos, em que se pesquisou a vida deles. Havia uma alta incidência de perda de pai ou mãe na infância. Eram pacientes com quadros psiquiátricos severos. Este é um exemplo de que o luto não realizado pode se manifestar não só na tristeza padrão, mas em doenças psiquiátricas. É diferente do luto distorcido, em que a pessoa aparenta estar bem, mas não está. Tem filhos para criar, trabalho e não consegue dar conta de tudo. Então disfarça.
ISTOÉ – E sobre o tempo de duração do luto?
Maria Helena – Trabalhamos por um parâmetro de um ano, mas não é regra. Há datas marcantes como o primeiro aniversário da pessoa que morreu. O primeiro Natal, etc. São situações de celebração que, depois da perda, marcam a ausência. Isto é positivo porque faz com que a pessoa se dê conta da realidade da perda. É importante que essas datas não sejam negadas. Quando completa um ano da morte, acontece um fenômeno chamado "reação de aniversário". Revive-se o ano que passou, a dor. Se perguntam por que estavam melhor e a dor voltou com tudo?
ISTOÉ – E a partir daí muda a relação com a perda?
Maria Helena – Do ponto de vista da terapia, é muito importante que se possa trabalhar o enlutado durante o primeiro ano da perda para o terapeuta estar junto nesses momentos. Do ponto de vista clínico, é muito mais complicado quando o enlutado chega ao consultório depois de cinco, dez anos da perda. As coisas estão mais cristalizadas. Quando entra no segundo ano, faz um certo platô emocional, sem que tudo tenha sido elaborado.
ISTOÉ – Então, depois de uma grande perda, é possível ser feliz?
Maria Helena – É claro, mas precisa ressaltar que o enlutado odeia pensar que vai esquecer o ente que morreu. Ele não pode nem quer esquecer. A terapia trabalha na transformação dessa ausência numa memória. Porque o morto vive na memória de quem conviveu com ele. Esquecer é aterrorizante porque é não ter mais. A memória é saudável.
ISTOÉ – E por que algumas pessoas não se recuperam? Há quem tenha morrido de tristeza. A terapia pode reverter isso?
Maria Helena – Depende do tipo de relacionamento que a pessoa tinha com o morto. Tem dependência que se manifesta em coisas sutis do cotidiano, que no dia-a-dia não se percebe. Há viúvas, por exemplo, que não sabem sequer que roupa usar, que nunca tomaram decisões com relação à família. Era sempre o marido quem fazia. Muitas vezes tem um lado fraco e um forte. Se o fraco morre, o outro vai precisar de alguém que substitua aquela dependência que classificamos de cuidadora.
ISTOÉ – E as pessoas que desabrocham depois de enviuvar?
Maria Helena – A sociedade é muito crítica em relação à viúva bem mais do que ao viúvo. Pode ser um luto bem-resolvido ou nos levar a pensar no que aquele casamento representava. Podia representar opressão. Ela solta seus grilhões. Atendi muitas mulheres que floresceram depois de enviuvar. Elas constroem uma nova identidade. É saudável perceber que depois de uma perda a pessoa fica diferente. Quando ela busca ser como era antes, se coloca num caminho impossível.

ISTOÉ – E os lutos coletivos, como foram os de Ayrton Senna e Lady Di?
Maria Helena – Há dois aspectos. Um é o do papel da mídia na intensificação desses lutos. O outro é a dor da perda do ídolo refletida na vida de cada um. Quando o Senna morreu, choramos nossas perdas, pequenas e grandes. Perdas relacionadas ao orgulho de ser brasileiro, aos fracassos de cada um. A perda do filho que tinha a mesma idade dele. Fui à Inglaterra para os funerais da princesa Diana. O choro daquela gente não era só porque a princesa era querida. Mulheres choraram seus lutos pela princesa e por maridos inoperantes, traidores, jovens choraram por pais omissos. Cada um deságua seus lutos quando um ídolo se vai. Ainda que inconscientemente. 

Luto, espiritualidade e câncer estiveram em discussão ontem, no II Congresso Cearense de Psico-Oncologia


Luto, espiritualidade e câncer estiveram em discussão ontem, no II Congresso Cearense de Psico-Oncologia

Luto, espiritualidade e câncer foi o tema de uma das mesas-redondas da programação deste domingo do II Congresso Cearense de Psico-Oncologia. Sob a coordenação dos psicoterapeutas Antonio Trajano e Júlia Kovacs, quatro especialistas abordaram os desafios atuais que a recente área psico-oncológica enfrenta no acompanhamento dos pacientes com câncer e seus familiares.

No Ceará, a Psico-Oncologia tem sido encaminhada com curso de especialização promovido pelo Hospital do Câncer, já em sua terceira turma. A dimensão da espiritualidade, pouco compreendida pela especialidade médica oncológica, tem na Psicologia sua porta de acesso.

Para a médica neonatologista e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Eliane Oliveira, que abordou a ‘‘Espiritualidade no Morrer’’, o câncer tem sido um dos graves e complexos problemas que tem conduzido a mudanças nas escolas médicas, a partir de um repensar do paradigma reducionista mecanicista newton-cartesiano.

Uma das introdutoras e coordenadoras da disciplina ‘‘Medicina e Espiritualidade’’, a médica revela já está na hora de parar de formar biotécnicos e dar aos médicos outra formação. As pressões dos movimentos sociais em prol da humanização dos tratamentos de saúde tem movido os profissionais a este repensar sua prisão no racionalismo científico.

Para ela, o paradigma quântico tem oferecido uma contribuição também à área da saúde, abrindo a perspectiva para a transdisciplinaridade, o que engloba outras áreas do saber, além da ciência: a arte, a religião e as próprias experiências humanas, que são individuais (cada ser é único, não um número estatístico).

Quando se fala melhorar a qualidade de vida dos pacientes oncológicos, a médica anuncia também uma mudança da perspectiva materialista e utilitarista do termo para uma mais abrangente, que é a dignidade de vida: ´Todos temos direitos à dignidade, em todas e quaisquer circunstâncias´.


No tocante à espiritualidade, a médica se anuncia uma aprendiz, embora já não siga a cartilha médica que considera a morte como fracasso e sim como processo natural.

ESPIRITUALIDADE E O PACIENTE TERMINAL - O Papel do Capelão na Equipe Multidisciplinar - Eleny Vassão

O Papel do Capelão na Equipe Multidisciplinar - por Eleny Vassão de Paula Aitken
 
Cremesp - agenusp@usp.br
 Publicado em 3/março/2010 
Grupo de Trabalho Sobre Cuidados Paliativos do Cremesp
O início: no final de 2005 o Conselho Regional de Medicina do Estado de São
Paulo (Cremesp) promoveu reunião sobre Terminalidade da Vida, convidando pessoas
com interesse no tema. Foi grande o entusiasmo e a vontade dos participantes em dar
continuidade ao debate e, sobretudo, em ampliar as discussões ali ocorridas, com a
introdução do tema “Cuidados Paliativos”. 
De autoria de 47 autores e colaboradores, incluindo profissionais do Programa de Atendimento Domiciliar e de Cuidados Paliativos (PAD) do Hospital Universitário (HU) da USP, o livro Cuidado Paliativo está sendo distribuído gratuitamente a profissionais e estudantes da saúde na na sede do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) e em versão online pelo site do Conselho. Organizada pelo Cremesp, a obra já esgotou as duas primeiras tiragens


Tendo mencionado a importância da espiritualidade/religiosidade no atendimento
integral ao paciente terminal, torna-se vital definirmos o papel do capelão e as
atividades de uma capelania hospitalar, pois caberá principalmente a estes o atendimento
religioso/espiritual diário ao enfermo de Cuidados Paliativos.
Nos últimos anos, o capelão tem alcançado um lugar de crescente importância
na equipe de saúde. Antes, seu papel seria somente o de dirigir algumas preces junto
ao paciente aflito, mas hoje sua função tem maior alcance: ele é visto como uma
pessoa capacitada para este ministério específico, e que demonstra a compaixão de
Deus pela pessoa humana, indo ao seu encontro para oferecer-lhe conforto e esperança,
fortalecendo sua fé e ajudando-a a encontrar, no relacionamento íntimo e
pessoal com Deus, o significado da vida e os Seus propósitos em meio ao sofrimento.
Missas e cultos são parte do serviço de capelania, tendo em vista a liberdade de culto
que há no país. Se a pessoa não pode ir à celebração religiosa em sua comunidade, esta
virá até ela, sendo realizada dentro do ambiente hospitalar, obedecidas suas limitações.
O capelão, ou capelã, nem sempre é um clérigo, mas deve ter um perfil bem
especial: dom da misericórdia, boa estabilidade emocional, conhecimento de sua fé,
equilíbrio doutrinário, e conhecimento da rotina de um hospital, tendo habilidade
para relacionar-se e integrar-se aos profissionais da saúde.
Ele é tido como fonte de suporte espiritual para o paciente, sua família e também
para o profissional da saúde, mas nunca deverá se esquecer de que é um eterno aluno
de seus pacientes, principalmente, daqueles que estão próximos à morte.
Deve sempre iniciar o contato com o paciente dando ouvidos, com toda a atenção,
à sua linguagem verbal e também não-verbal. A partir do ouvir, poderá identificar
a crença deste paciente, em que esta tem afetado sua vida, como ele vê a enfermidade
diante do retrato que faz deste seu Deus. Somente então saberá como abordá-lo
adequadamente.
Mesmo para o paciente não-religioso, poderá usar outros sentidos da
espiritualidade, como a arte e a música, para dar-lhe suporte durante a doença, ajudando-
o a encontrar um sentido em sua vida. Para os religiosos, a partir das necessidades
e abordagem levantadas por este, oferecer-lhe conforto e ao mesmo tempo
ajudar a solucionar conflitos de relacionamento existentes, sejam eles com Deus ou
com pessoas de sua intimidade.
O capelão experiente organizará uma capelania hospitalar, composta de outros
capelães e também de visitadores voluntários, que atuarão em sistema de rodízio, mantendo
o serviço por 24 horas e estendendo-o a todo o hospital. Religiosos externos de
quaisquer credos poderão oferecer atendimento aos membros de suas comunidades,
que estejam hospitalizados. Para tal, deverão ser triados e orientados sobre a rotina
hospitalar e os limites na visitação e ritos, pela capelania local. Isto trará tranquilidade
para o serviço de segurança, para a portaria, para o serviço social e principalmente para
a diretoria do hospital, pois garantirá o cuidado espiritual especializado ao paciente, ao
mesmo tempo em que protegerá o hospital de extremismos religiosos.
O capelão do hospital ficará responsável pelo contato com religiosos de outros
credos, a pedido dos pacientes.
As atividades da capelania, a princípio, serão de caráter espiritual e emocional,
mas, conforme as necessidades percebidas em cada hospital, poderão estender-se
também às áreas social, recreacional e educacional, através de pessoas preparadas
para desenvolverem estas funções, sem perder os propósitos espirituais.
As Necessidades e Oportunidades Espirituais em Cuidados Paliativos
A morte traz consigo uma sombra e um cheiro específico, que se antecipam à
própria, trazendo insegurança, medos, confusão, urgência na resolução de algumas
questões práticas, outras relacionadas à culpa e ao perdão e ainda outras, de cunho
profundamente teológico e verticalmente relacional.
Tudo que nos é desconhecido, e foge ao nosso controle, nos causa pavor. Entre
os motivos de medo nestes pacientes, salientamos alguns: medo da dor e de outros
sintomas; medo do abandono; medo da não-existência; medo da perda da dignidade;
medo da dependência e da perda de controle físico, social e financeiro e medo de
que os profissionais da saúde não saibam ou não tenham como ajudá-lo14 .
Entre as necessidades captadas através de muitas pequisas entre pacientes em
fim de vida, alguns dos pontos comuns foram:
1. Necessidade de ser considerado como pessoa:
Participando de todas as decisões quanto ao tratamento, e também tomando conhecimento
e participando das decisões nas questões familiares. Ele teme perder seu
nome e identidade; ser mais um doente, com mais um diagnóstico de uma doença;
dependente de outros e totalmente inútil.
2. Necessidade de reler sua vida:
O enfermo de Cuidados Paliativos tem muita necessidade de falar sobre sua vida,
voltar ao seu passado e reavaliá-lo diante de novos valores, buscando um sentido
para o seu sofrimento, para que possa viver o presente de uma forma diferente. A
enfermidade grave busca, com urgência, palavras verdadeiras e respostas a profundas
crises existenciais.
3. Necessidade da busca do sentido:
Uma nova hierarquia de valores é organizada. Existe a busca de algo que é mais
forte e maior do que a morte. A proximidade da morte coloca a pessoa diante do
essencial, da extrema necessidade de encontrar um sentido para a sua própria existência.
O problema da finitude se impõe ao seu sofrimento em um ensaio de compreensão
de sua própria vida. A grande prova é perceber que é um ser limitado e acabado,
e mesmo assim, encontrar forças e sentido para viver com intensidade os dias que
lhe restam, deixando com que o seu espírito cresça, embora o corpo definhe.
Viktor Frankl, psiquiatra e neurologista que viveu como prisioneiro em campo de
concentração da Alemanha, diz que todo homem pode encontrar um sentido em sua
vida, inclusive no sofrimento. O sentido de ter feito algo durante sua vida. Este sentimento
pode expressar-se através de uma verdadeira fé religiosa, renovada em um
verdadeiro relacionamento com Deus, muito além dos ritos. Este sentido encontrado
na morte volta a dar sentido à vida.
4. A necessidade de se livrar da culpa:
A crença religiosa seguida pelo enfermo influenciará seu modo de ver seu sofrimento.
Se a sua visão de Deus é de alguém punitivo, poderá sentir-se pagando por
algo que cometeu, e não terá sequer condições de pedir por clemência, ou encontrar
paz no refazer o relacionamento quebrado com o seu Deus. Questões como: “Por
que eu?” “Por que comigo?” “ Por que agora?” “O que fiz para merecer isso?”
A maneira como vivemos pode influenciar o momento e as condições de nossa
morte.
O cristianismo apresenta, através dos Evangelhos, o Deus Criador, Soberano e Misericordioso,
que, não importando o passado da pessoa, vem ao encontro deste na pessoa
de Jesus, Deus Encarnado, oferecendo àqueles que Nele crêem o perdão completo, o
livre acesso a Deus, num relacionamento de amor, promessas e esperança eternos.
Ao saber-se perdoado por Deus, seu coração torna-se mais sensível e pronto a
perdoar e a pedir perdão a outros de seu relacionamento.
5. Necessidade de se reconciliar:
Todos nós levamos conosco questões não resolvidas. Alguns gestos de ódio, de
ruptura, de repreensão sobre outros e sobre si mesmo. A enfermidade é, muitas vezes,
o momento em que estes gestos brotam de forma viva na memória. O enfermo em fim
de vida, já frágil e sem forças, precisará despender de muita energia para ir ao encontro
de pessoas a quem feriu, pedir-lhe perdão, e procurar formas para tentar endireitar
o mal que cometeu. Permitir que o enfermo tenha contato com a sua realidade, possa
acertar as coisas e dizer adeus, é muito importante. Muitos destes pacientes revelaram
que suas maiores preocupações eram: Não ser perdoado por Deus; não se reconciliar
com outras pessoas ou de morrer afastados de Deus ou de uma força espiritual,
ou rompido com eles.
“Põe a tua casa em ordem...” Para enfrentar a morte de uma maneira serena, é
necessário perdoar e receber perdão de outros, de perdoar-se a si mesmo, de estar em
harmonia com Deus.
6. Necessidade de abrir-se à transparência:
O enfermo de Cuidados Paliativos não tem mais tempo a perder com conversas
fúteis e verdades escondidas. Em sua busca de alguém que o ouça e o ajude a “colocar
a sua casa em ordem”, ele abre com facilidade seu coração, expressando suas
apreensões, medos e dificuldades. Em pesquisa realizada pelo Gallup, em 1997, nos
EUA, as necessidades apontadas por pacientes terminais foram: 51% vencer o medo;
41% encontrar esperança; 40% descobrir um sentido na vida; 43% descobrir paz de
espírito; 39% descobrir recursos espirituais.
7. De descobrir algo além de sua própria existência:
Esta necessidade manifesta-se de duas formas: 1. abertura à transcendência (o
relacionamento com Deus, com a arte, com a natureza, no reencontro, no culto) ; 2.
necessidade de reencontrar o sentido à solidariedade. Pacientes que, mesmo com
grande dificuldade, ainda conseguem levantar de seus leitos para oferecer ajuda à
alguém que está no leito ao seu lado, em pior condições, sentem-se úteis e solidários
ao sofrimento humano.
Visitamos um Hospice no Uruguai, estrategicamente colocado em um lugar com
vasta natureza à mostra, cercado de belas praças e jardins, para onde muitos destes
pacientes eram levados diariamente para passeio por voluntários e religiosos. Os
pacientes em fase terminal distinguem-se das outras pessoas que passeiam pelo parque
pela maneira com que elas contemplam a natureza, as árvores, os pássaros.
Olham-nas atentamente, detalhadamente, como se nunca antes tivessem visto aquele
encanto à sua frente. Contemplam as obras do Criador com admiração e reverente
temor, pois talvez poucas vezes tenham tido tempo em suas rotinas de vida para
valorizar a natureza. Em seu estágio final, eles também demonstram não ter necessidade
de companhia e não dão valor a uma TV, a notícias recentes ou a algo passageiro.
Estão usando todas as suas energias em preparar-se para a partida.
Para estes quando têm ainda oportunidade de assitir a um culto, ou em seu próprio
quarto de hospital, ou em uma comunidade religiosa, o fazem com adoração e
reverência, expressando gratidão aos fiéis reunidos e à abertura do tempo à presença
de Deus. A adoração dá sentido à vida, ao mesmo tempo em que os leva à contemplação
de um mundo que os transcende.
8. Necessidade de ser amado, apesar de seu aspecto:
Poucas pessoas se dispõem a ficar com o paciente até o fim. Seu aspecto cadavérico,
sua cor, sua respiração, sua alteração de humor, suas dúvidas e franqueza aos
expressá-las, tudo isso faz com que poucos, e somente os muito íntimos, disponhamse
a estar presentes até o final.
Ele tem grande necessidade de sentir-se amado, apesar de tudo, e que este amor
seja expresso de maneira carinhosa através de toques e palavras de conforto e esperança,
dizendo-lhe como sua vida tem sido preciosa e útil, lembrando-o de tantas
coisas boas que realizou, e as marcas que está deixando na vida de outros.
9. Necessidade de uma nova relação com o tempo:
É o tempo irreal, ou a ausência de tempo. O enfermo intensificará sua relação
com o passado, para apropriar-se de sua vida; com o presente, com uma nova
hierarquia de valores, dando maior peso e valor ao tempo, aos detalhes, às pessoas.
Ele precisará aprender a viver cada dia, tendo ainda projetos a curto prazo. Com o
futuro: o tempo limitado pode ser vivido como uma frustração, uma angústia, o inconcebível,
mas também pode ser uma abertura para o transcendente.
10. Necessidade de continuidade:
A Bíblia comenta sobre um rei que morreu, sem deixar de si saudades. Todos nós
temos a necessidade de deixar alguma coisa maior, em prol de outros, como valores de
fraternidade, de justiça, de respeito, no sentido de que deixamos marcas a serem seguidas,
de que a nossa vida foi um monumento para alguém ou alguma causa. Esta continuidade
pode ser vivida por seus descendentes, quando as relações familiares são boas,
ou por uma empresa, uma obra, uma mensagem, uma palavra. Este é o fruto de uma
vida toda, que ele recolheu depois de ter pesado o que teria diante da morte.
Existe também um sentido de continuidade depois da morte. Há uma noção de imortalidade
da alma, lembrando também a ressurreição. Aqueles que são cristãos, por possuírem
um relacionamento com o Deus vivo, encaram a morte como um sono, uma passagem
para a eternidade, onde terão muitas recompensas: não enfrentarão mais o sofrimento,
receberão corpos novos e perfeitos, e viverão para sempre na presença de Deus.
“O próprio Deus estará com eles e será o Deus deles. Ele enxugará dos olhos
deles todas as lágrimas. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor.
As coisas velhas já passaram. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. A quem
tem sede darei, de graça, da fonte da água da vida16.”
O paciente e seus familiares que recebem de boa vontade o atendimento espiritual,
e engajam-se a ele, recebem benefícios inestimáveis. Tomar consciência de um
prognóstico ruim é extremamente doloroso, mas ao mesmo tempo é um privilégio ter
o domínio sobre um tempo especial de preparo para a partida, podendo despedir-se
dos seus queridos, colocando a casa em ordem diante de Deus e dos homens.
Em Cuidados Paliativos, a palavra “cura” pode ter um aspecto bem diferente:
pode significar a oportunidade de ver a vida de modo diferente, encontrando nela e
em seus queridos tesouros nunca antes percebidos. Significa, também, aprender a
aceitar suas limitações e humildemente aceitar o cuidado amoroso de seus queridos.
Mais ainda, significa aprender a olhar para trás e ser grato a Deus por detalhes de sua
vida, antes sem sentido, mas que agora, olhados no conjunto, demonstram o cuidado
e o livramento de Deus de situações perigosas.
O paciente que tem o privilégio de ganhar tudo isso terá como resultado uma
compreensão muito mais profunda da vida e a certeza de um relacionamento maravilhoso
com Deus, somente iniciado aqui, mas que continuará eternamente.

Conclusão
Lúcia, nossa capelã em Cuidados Paliativos no Hospital do Servidor Público, foi
chamada pela jovem médica que não sabia como lidar com o pedido de eutanásia
feito por uma paciente. O medo da dor que poderia sofrer no processo do morrer
fizera com que ela perdesse o desejo de viver, clamando por medicações que a fizessem
dormir até o momento final.
Algo mais foi acrescentado às respostas às profundas questões teológicas,
relacionais e existenciais. Agora havia não uma nova religiosidade, mas um novo
relacionamento com Deus, o qual lhe deu forças para enfrentar o medo e a dor.
Através das palavras de consolo e também ao carinhoso desafio ao enfrentamento
da situação, a paciente voltou a aceitar o alimento e a medicação. Havia disposição
em viver até o fim. O medo fora vencido pela certeza da presença confortadora da
capelã, mas ainda mais do Deus que a amava e em quem podia confiar que estaria
presente para levá-la para o seu eterno lar.
Mais animada, atendeu ao desafio de confeccionar, com suas próprias mãos, uma
linda caixinha enfeitada com papel de seda e um delicado buquê de flores de papel.
Ao olhar o modelo que deveria imitar para fazer o artesanato, sentia-se incapaz,
inútil e frágil demais para fazer algo. Incentivada pelas capelãs, trabalhando devagar
e com grande persistência, parava de pouco em pouco para descansar, cochilando
por minutos, mas sempre mostrando desejo em concluir o trabalho começado.
Depois de quase uma hora e muitas interrupções, seu semblante estava mudado:
sorria com doçura ao ver que fora capaz de fazer algo bonito. A delicada peça em
suas mãos fazia-na perceber que sua vida ainda era útil, tinha sentido, e podia acrescentar
algo à vida de sua família.
Estava deixando um pequeno monumento que simbolizava uma vida digna, de
amor à família, e que ao mesmo tempo os consolava: ela agora estava tão tranqüila
por saber que viveria eternamente, que pudera gastar suas últimas energias em produzir
algo mais.
Feliz, ofereceu a caixinha à filha.
Morreu de mãos dadas com a capelã, que a acompanhou, orou e bem baixinho
cantou para ela, até seu último suspiro. A filha ficou ao seu lado, e nos momentos
mais difíceis, pôde deixar a mãe por momentos, recuperando-se no corredor, pois
sabia que havia alguém cuidando dela.
O texto acima foi elaborado a partir das opiniões pessoais da autora,
com base em sua experiência profissional como capelã.


Referências Bibliográficas:
1. Almanza-Munõz J, Holland JC. Espiritualidad y Detección de ‘Distress en Psico-Oncologia,
em Oncologia Clínica; 4 (3): 246-9.
2. Association of American Medical Colleges. Report III, Contemporary issues in medicine:
communication in medicine. Washington, DC: Association of American Colleges, Medical
School Objectives Project (MSOP); 1999. p. 25-26.
3. Bautista M. Cuidados espirituales em los cuidados paliativos. O Mundo da Saúde 2003
jan/mar; 27(1).
4. Cortés JM, Recio CG, Cortés CC. El sacerdote em el acompañamento al final de la vida.
Medicina Paliativa em la Cultura Latina. Valladolid: Junta de Castilla y Leon; 1999.
5. Gallup, 1997, EUA
6. King, DE. Faith, Spirituality and Medicine. The Haworth Pastoral Press, 2000, cap.1
7. Koenig HG. The Healing Power of Faith. New York: Simon & Schuster; 2001
8. Koenig, George e Peterson, 1998.
9. Peck P. Spiritual Issues in Palliative Care. Oxford, capítulo 11, p.806.
10. Puchalski CM, Sandoval C. Spiritual care. [on-line]. [acessado em: 4 ago. 2008]. Disponível
em: http://hab.hrsa.gov/tools/palliative/chap 13.html
11. Schoefferman, 1986.
12. Sociedade Bíblica do Brasil. Bíblia da família: nova tradução na linguagem de hoje. Barueri,
SP: Gráfica da Bíblia; 2006. Cap. 38 - Livro de Isaias: p. 720
13. Sociedade Bíblica do Brasil. Bíblia da família: nova tradução na linguagem de hoje. Barueri,
SP: Gráfica da Bíblia; 2000.
14. Sociedade Bíblica do Brasil. Bíblia da família: nova tradução na linguagem de hoje. Barueri,
SP: Gráfica da Bíblia; 2006. Cap. 21 - Livro de Apocalipse: 3b, 4, 6.
15. William B. Espiritualidade e sentido nos cuidados paliativos. O Mundo da Saúde 2003
jan-mar; 27(1).
16. Wrigth M. Chaplaincy in hospice and hospital: finding from a suvey in England na Wales.
Palliative Medicine 2001; 15:229-42.
17. Yates JW, Chalmer BJ, St James P, et al. Religion in patients with advanced cancer. Med.
Pediatr. Oncol 1981; 9:121-8.

CUIDADO PALIATIVO - ESPIRITUALIDADE E O PACIENTE TERMINAL

ESPIRITUALIDADE E O PACIENTE TERMINAL
Eleny Vassão de Paula Aitken


Cremesp - agenusp@usp.br  
Publicado em 3/março/2010 |  Editoria : Publicações 
Cremesp fica na Rua da Consolação, 753, Centro, São Paulo.

Mais informações site: www.cremesp.org.br/library/modulos/legislacao/integras_pdf/livro_cuidado%20paliativo.pdf
De autoria de 47 autores e colaboradores, incluindo profissionais do Programa de Atendimento Domiciliar e de Cuidados Paliativos (PAD) do Hospital Universitário (HU) da USP, o livro Cuidado Paliativo está sendo distribuído gratuitamente a profissionais e estudantes da saúde na na sede do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) e em versão online pelo site do Conselho. Organizada pelo Cremesp, a obra já esgotou as duas primeiras tiragens.




Introdução
— “Doutor, o senhor tem me acompanhado há mais de dez anos nesta doença,
com todo o carinho e franqueza, e agora não tem coragem de olhar nos meus olhos e
me dizer que estou morrendo?”
— “Doutor, eu estou morrendo? Fale comigo sobre a morte! Converse comigo
francamente, como o senhor sempre fez em relação às minhas doenças oportunistas
na Aids. Diga-me francamente o que ainda posso esperar da Medicina! Como será o
meu fim? Terei muita dor?”
Delicadamente, o médico tomou a mão de D. Maria entre as suas e, olhando-a
com profunda ternura, disse: “É verdade, minha amiga. Você está caminhando para o
fim de seus dias. Agora, a Medicina não tem muito a lhe oferecer para a cura de suas
doenças, mas eu lhe prometo estar ao seu lado até o fim, aliviando suas dores, conversando
com você e dando todo o apoio aos seus filhos.”
Aquela franqueza sossegou D. Maria, que repentinamente ficou mais alegre, brincou
com o doutor e logo voltou à sua sonolência, como que aliviando a dor da
verdade e prolongando um pouquinho mais os seus dias. A revolta de ter sido infectada
pelo marido há muito já se fora, e agora ficava a saudade dos seus filhos e netos,
como se, viajando para uma terra muito distante e sem volta, não tivesse abraços e
palavras suficientes para consolar e para despedir-se daqueles a quem tanto amava.
Todos os profissionais que se aproximavam de d. Maria percebiam que, apesar
de toda a sua tristeza, havia no ar uma nota de vitória, que nem mesmo a sombra da
morte pudera derrotar. A paz que inundava seu semblante dolorido trazia como que
um doce perfume àquele quarto, atraindo a curiosidade de alguns profissionais da
saúde antes endurecidos por já terem contemplado tantas perdas.
Mas aquela paciente era diferente. Seu corpo definhava dia-a-dia, mas seu espírito
estava mais vivo, maduro, e parecia sustentá-la, apesar de nem mesmo o mais
leve cheiro de esperança existir no ar.

O que fazia com que aquela senhora enfrentasse a morte com tal calma e dignidade?
Haveria alguma relação benéfica entre suas crenças e sua reação diante da morte?
A Fragilidade do Adoecer
“A minha vida está desaparecendo como fumaça,
e o meu corpo queima como se estivesse no fogo.
Estou acabado como a grama que foi cortada e pisada;
não tenho vontade de comer.
Fico gemendo alto; sou apenas pele e osso.
Sou como um pássaro em lugares desertos,
como uma coruja numa casa abandonada.
Não consigo dormir;
sou como um pássaro solitário em cima do telhado1.”
Salmo 102:3-7
D. Maria nunca pensara em ficar num hospital no fim de seus dias. Ser vencida
pela doença não estava em seus planos.
O adoecer é o evento da vida que nos faz questionar a nós mesmos, nossos propósitos,
valores e o sentido da vida. Ele interrompe as nossas carreiras, abala a nossa vida
familiar, tira a nossa paz, e nos faz sentir um forte temor do desconhecido e da possibilidade
de virmos a perder o controle sobre as circunstâncias da nossa vida.
Um outro paciente, que viveu muitos séculos atrás, era um grande rei: Ezequias, o rei
de Israel. Ele ficou muito doente, às portas da morte. O profeta Isaías foi visitá-lo e disse:
“O Senhor Deus disse assim:
Ponha as suas coisas em ordem,
porque você não vai sarar.
Apronte-se para morrer.”1
A doença não escolhe classe social, raça, credo ou nível cultural. Diante da
doença e da morte, somos colocados todos na mesma terrível situação.
Como qualquer outro ser, Ezequias também se sentiu tomado de surpresa, cheio
de medo e disposto a barganhar com Deus e com os homens para ser poupado. Se
possível, queria ganhar mais alguns anos, meses, ou até mesmo dias de vida.
É interessante como, diante da morte, tomamos consciência de que realmente
somos pequenos e frágeis. Do alto de nossos saltos de orgulho pelas nossas conquistas,
títulos e realizações, raramente paramos para pensar que mesmo que possamos
ter domínio sobre a ciência, de curar ou atuarmos na área da saúde, isto não nos
torna imunes aos mesmos sofrimentos daqueles pacientes a quem tratamos e acompanhamos
até a morte.

Se estivéssemos sempre sendo lembrados deste fato, talvez tratássemos os nossos
pacientes com maior humildade e humanidade, pois veríamos refletido em seu
corpo caquético o nosso próprio retrato, relembrando-nos de que a nossa hora
também chegará.
Ezequias, um rei diante do Rei dos reis, lembra-se que, por baixo de suas vestes
reais, ainda tem um corpo humano, e chora amargamente diante do Deus a quem
conhecia e com o qual tinha um relacionamento aberto e íntimo. Deus responde às
suas orações prolongando sua vida por mais quinze anos. Ao responder-lhe afirmativamente,
dá-lhe um sinal, fazendo com que a sombra retroceda dez graus (os astrônomos
confirmam este mistério), e então ele escreve um hino de louvor, do qual
citamos apenas parte, onde ele filosofa sobre a fragilidade de sua vida, ao mesmo
tempo em que revela sua espiritualidade:
“ A minha vida foi cortada e terminada
como uma barraca de pastores
que é desmontada e levada para longe
como um pedaço de pano que
o tecelão corta de uma peça de tecido.
Dia e noite eu pensava
que Deus já ia acabar comigo.
A noite inteira, eu gritava de dor,
Como se um leão estivesse
Quebrando os meus ossos.
Dia e noite eu pensava que
Deus já ia acabar comigo.
Eu soltava fracos gemidos de dor
como uma andorinha
e gemia como uma pomba.
Os meus olhos se cansaram
de olhar para o céu.
Ó Senhor, estou sofrendo! Salva-me!
Isaías 38:12-14
Espiritualidade, Fé e Religiosidade
O tema espiritualidade reemerge em meio à alta tecnologia, ao materialismo
de nossa época, como um desafio a pensar em algo mais alto e além de nossa
própria capacidade, de nosso próprio domínio e controle. Digo reemerge, pois a
separação entre ciência e espiritualidade, ou religiosidade, não existia, como cita
Almananza-Munõz e Holland, no artigo “Espiritualidad y Detección de ‘Distress’
en Psico-Oncologia”2:
“Tradicionalmente a religião tem oferecido ao ser humano um marco de devoção
estruturante, que proporciona alívio e consolo. Isto se soma a consideração de
vínculo antigo entre espiritualidade e saúde e a alguns achados recentes no campo
clínico e na área de investigação, que nos levam a refletir em torno da importante
função da espiritualidade no contexto do cuidado médico. De fato, o vínculo histórico
entre medicina e religião se reporta muito além da era industrial, sendo relevante
que no início do cristianismo os médicos eram, em sua maioria, membros da
igreja, cuja orientação à coletividade incluía um interesse genuíno na totalidade da
pessoa... A relevância da espiritualidade tem sido ressaltada, em distintas perspectivas,
por médicos célebres como William Osler (1910), Benjamim Rush (1911),
Freud (1930); Fromm (1930).
Há tantos conceitos sobre espiritualidade quanto os livros escritos, sejam eles
explícitos ou não. Dentre tantos, destacamos estes :
Espiritualidade vem do latim Espíritu, vocábulo relacionado com respiração, como
um ato inquestionavelmente vital. Tal conceito leva à percepção da espiritualidade
como um processo de interação entre a nossa consciência e a relação com Deus ou
com um Poder Superior, em função do que chamamos de Fé. A fé implica a certeza
de algo sem evidência material do mesmo. Religião alude a uma instituição cultural
ou grupal, em torno de um culto específico, que tem lugar e tempo particulares,
oferecendo consolo nas privações, favorecendo a auto-aceitação e diminuindo os
sentimentos de culpa3 .
Cristina Puchalski e o Reverendo Carlos Sandoval citam o artigo da Associação
Americana de Escolas Médicas, onde a espiritualidade é expressa pela busca de uma
pessoa pelo sentido último, através da participação na religião e/ou crença em Deus,
família, naturalismo, humanismo e artes. Todos estes fatores podem influenciar na
forma como os pacientes e os profissionais da saúde percebem a saúde e a doença e
como interagem com uma e outra.
Eles citam, também, que segundo pesquisas do Gallup (1997), os pacientes
disseram que queriam que suas necessidades espirituais fossem consideradas quando
eles estivessem próximos da morte. Pacientes com câncer avançado que tinham
crenças espirituais, mostraram-se mais satisfeitos com suas vidas, eram mais felizes,
e sentiam menos dor, comparados àqueles sem crenças espirituais4. Uma pesquisa
feita pela American Pain Society mostrou que a oração era o segundo método
mais usado no manejo da dor, depois de medicações orais para dor, e o método
não-ligado à droga mais comum, no manejo da dor.

A espiritualidade está associada a menores índices de mortalidade, menor depressão,
menor risco de cirrose, enfisema, suicídio e morte por isquemia cardíaca, assim
como menor uso de serviços hospitalares, e inclusive menor tendência de fumar.
Harold Koenig, Diretor do Centro de Estudos sobre Religião/Espiritualidade e
Saúde da Universidade de Duke, tem sido um dos maiores expoentes nas pesquisas
que buscam mostrar o impacto da fé sobre a saúde física e mental. Ele tem dezenas
de livros e mais de duzentos artigos publicados sobre o tema, em diversas modalidades
médicas.
Koenig foi despertado para o tema quando, ao atender uma paciente de seu colega
que havia saido em férias, defrontou-se com um caso sem explicação clínica.
Aquela senhora havia perdido seu único filho em terrível acidente. Seis meses depois,
seu marido também faleceu. No funeral de seu querido, o chão do cemitério
estava muito liso e escorregadio, devido a uma nevasca na noite anterior, o que a fez
escorregar e fraturar o fêmur.
Quando o Dr. Koenig foi atendê-la, ela estava hospitalizada há cerca de quatro
meses, pois tivera uma séria infecção depois da cirurgia. Cabisbaixo, enquanto andava
pelos corredores em direção ao quarto da paciente, pensava em como ele próprio
ficaria, se tivesse que enfrentar todas estas perdas.
Preparou-se para encontrar uma mulher amarga, rancorosa e deprimida, com
quem seria difícil se relacionar.
Para sua surpresa, defrontou-se com uma senhora de rosto meigo e tranqüilo,
que, sentada em seu leito, calmamente lia sua Bíblia. Ao ver o olhar perplexo do
médico, perguntou-lhe: “Posso ajudá-lo em alguma coisa, doutor?”
Entre tantos temas que tem pesquisado, Koenig, citando o psicólogo social
Gordon Alport, em uma série de estudos pioneiros datando de 1950, faz uma clara
distinção entre pessoas que vivem uma religiosidade extrínseca de outras que têm
uma religiosidade intrínseca.
Ele define como “extrínseca” a religiosidade de uma pessoa que usa a religião
para alcançar algo ‘não espiritual’, como encontrar amigos, alcançar estatus social,
prestígio ou poder.
A religiosidade “intrínseca” pode ser ilustrada como aquela pessoa que tem uma
profunda e forte fé interior como principal força motivadora de sua vida, afetando
suas decisões e comportamentos diários, e é caracterizada por um íntimo relacionamento
pessoal com Deus, que inclui também: frequência à comunidade religiosa,
definição de suas crenças religiosas, importância da oração, conhecimento da literatura
religiosa, o uso da religião para lidar com o stress, e o suporte social oferecido
pela comunidade religiosa.

Com base nas afirmações de Allport, foram criadas as escalas que visam medir a
atitude religiosa de pacientes, enfocando a religiosidade intrínseca, pois esta resulta
em satisfação, segurança e bem-estar.
Quanto ao papel das crenças religiosas na terminalidade, Koenig diz:
“As crenças religiosas podem ter um papel em ajudar os pacientes a construírem
o sentido de um sofrimento inerente à doença, o que pode, por sua vez, facilitar a
aceitação de sua situação8.”
Tratando do tema ‘Depressão’, ele diz:
“Eu não digo que pessoas religiosas nunca sofrem de depressão... Mas pequisas
têm demonstrado que elas têm a habilidade de se recuperar de estados mentais negativos
mais rapidamente e mais efetivamente do que aqueles que não têm fé. Elas
vivem em um universo que é dirigido por um benevolente e onipotente Deus, que
cuida de toda a sua criação, responde suas orações, faz milagres, e oferece ilimitada
graça para quem crer. Neste mundo, cada evento da vida tem um propósito e significado,
mesmo que seja algo negativo, como uma doença ou um problema financeiro.
A pessoa religiosa é capaz de transformar a pior situação em experiência positiva9 .
Reed, em 1986, comparou pacientes terminais com adultos saudáveis, em termos
de ‘religiosidade e senso de bem-estar’. Os resultados apontaram, entre 300
participantes, que um significativo número de adultos em fase terminal demostrou
uma crescente espiritualidade sobre outros pacientes não terminais ou adultos
saudáveis. Pacientes terminais adultos também mostraram mais altas perspectivas
espirituais do que os outros mencionados. Há também uma baixa, mas significante,
correlação positiva entre espiritualidade e bem-estar para os pacientes terminais
adultos do grupo.
Em pesquisas que estudavam as respostas psicológicas e fisiológicas de pacientes
com câncer, Greer, Morris e Pettingale descobriram que mulheres que haviam sido
diagnosticadas com câncer de mama e se recusaram a perder a esperança tiveram
um melhor prognóstico do que aquelas que aceitaram passivamente sua doença.11
O tema “fé e espiritualidade” tem se tornado tão importante no meio que o ensino
e a prática da medicina estão mudando. Hoje, mais de 60 escolas de medicina nos
EUA têm cursos eletivos em religião, espiritualidade e medicina, incluindo Harvard,
John Hopkins, Brown, Case-Western, University of Chicago, University of Pennsylvania,
Washington University of St. Louis e outras1.
Puchalski e Romer (2000) têm defendido o valor da incorporação de um histórico
espiritual aos registros médicos de rotina, pois este ofereceria aos médicos elementos
contextuais, para que não apenas compreendam melhor seus pacientes como
também comecem a atender a algumas das suas necessidades espirituais.