C A H E R J

C A H E R J
Capelania Evangélica do Rio de Janeiro

domingo, 18 de setembro de 2011

A ÚLTIMA GRANDE LIÇÃO

A ÚLTIMA GRANDE LIÇÃO*
Por: Mitch Albom
http://www.ufpel.tche.br/medicina/bioetica/cuidadospaliativosetanatologia.pdf


O sentido da vida é um livro baseado nas entrevistas sucessivas de um jornalista com o seu velho professor, portador de esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), durante a fase do processo do morrer.

A Ela é como vela acesa: derrete os nervos e deixa o corpo como uma estalagmite de cera. Geralmente começa nas pernas e vai subindo. A pessoa perde o comando dos músculos das coxas e não agüenta ficar de pé. Perde o comando dos músculos do tronco e não consegue sentar-se ereta. No fim, se continua viva, respira por um tubo introduzido num orifício aberto na garganta; e a alma, perfeitamente alerta, fica aprisionada numa casca inerte, podendo talvez piscar, estalar a língua, como coisa de filme de ficção
científica – a pessoa congelada no próprio corpo. Isso não dura mais de cinco anos, contados do dia em que se contraiu a doença.
Os médicos deram a Morrie mais dois anos. ele sabia que seria menos. Mas o meu velho professor havia tomado uma decisão importante, na qual começara a pensar no dia em que saiu do consultório do médico com uma espada sobre a cabeça. Vou me entregar e sumir, ou aproveitar da melhor maneira o tempo que me resta? – indagou a si mesmo.
Não ia se entregar. não ia se envergonhar de sua morte decretada. decidiu que faria da morte o seu derradeiro projeto, o ponto central de seus dias. Já que todos vão morrer um dia, ele poderia ser de grande valia. Podia ser um campo de pesquisa. um compêndio humano. Estudem-me em meu lento e paciente processo de extinção. Observem o que acontece comigo. Aprendam comigo.
Morrie ia atravessar a ponte entre a vida e a morte e narrar a travessia.
estar morrendo é apenas uma circunstância triste, Mitch. viver infeliz á diferente. Muitas das pessoas que me visitam são infelizes.
Por quê?   Porque a cultura que temos não contribui para que as pessoas estejam satisfeitas com elas mesmas. estamos ensinando coisas erradas. E é preciso ser forte para dizer que, se a cultura não serve, não interessa ficar com ela. Que é melhor criar a sua própria. A maioria das pessoas não consegue fazer isso. são mais infelizes do que eu, mesmo na situação em que estou. Posso estar morrrendo, mas cercado de almas amorosas e dedicadas. Quantos podem dizer o mesmo?
Fiquei impressionado com a completa falta de autocomiseração. Este Morrie que não pode mais dançar, nadar, tomar banho, andar a pé, este Morrie que não pode mais atender à porta, não pode se enxugar depois do banho, nem mesmo se virar na cama – como pode ser tão resignado? eu o vi atrapalhado com o garfo, tentando pegar uma fatia de tomate, ela escapulindo por duas vezes, uma cena patética e, no entanto, tenho de reconhecer que a presença dele transmite uma serenidade mágica.
Perguntei se ele ainda se interessava pelo noticiário.
Claro. acha isso estranho? acha que por estar perto da morte eu deva me desinteressar pelo que se passa no mundo?
Quem sabe.
Ele suspirou fundo e disse: Você pode ter razão. Talvez não devesse me interessar. Afinal, não estarei mais aqui para ver os desfechos. Mas é difícil explicar, Mitch. agora que estou sofrendo, sinto-me mais perto das pessoas que sofrem do que sentia antes. outra noite, vi na televisão pessoas na bósnia correndo nas ruas, levando tiros, morrendo, vítimas inocentes e chorei. sinto a angústia delas como se fosse minha. Não conheço nenhuma delas, mas… como dizer, sou quase… atraído para elas.
Os olhos dele ficaram marejados. Tentei mudar de assunto, ele enxugou o rosto e fez sinal para que eu não ligasse.
Hoje em dia choro muito – disse. – não ligue.
Espantoso, pensei. eu trabalhava com notícias. entrevistei famílias enlutadas. até fui a enterros. nunca chorei. e Morrie, pelo sofrimento de pessoas lá no outro lado do mundo, estava chorando. Será isso o que acontece quando chega o fim? talvez a morte seja a grande equalizadora, o grande evento que consegue finalmente fazer estranhos chorarem por outros”.
“todo mundo vai morrer – repetiu Morrie -, mas ninguém acredita. se acreditássemos, mudaríamos nosso comportamento.de que maneira nos iludimos a respeito da morte – sugeri.isso. Mas há uma abordagem melhor. saber que se vai morrer e preparar-se para receber a morte a qualquer momento. assim é melhor. Assim, podemos ficar mais envolvidos com a vida que vivemos.
Como podemos nos preparar para morrer? – perguntei.
Fazendo como os budistas. No começo de cada dia ter um passarinho pousado no ombro, que pergunta: “É hoje que vou morrer? estou preparado? estou fazendo tudo o que preciso fazer? estou sendo a pessoa que quero ser?virou a cabeça para o ombro, como se o passarinho estivesse lá.
É hoje que vou morrer? repetiu.
Tem havido enorme confusão neste país quanto àquilo que queremos, em face do que precisamos – disse Morrie. Precisamos de alimento, e queremos um sorvete de chocolate. Precisamos ser honestos com nós mesmos. ninguém precisa do último carro esporte, ninguém precisa daquela casa maior.
Essas coisas não trazem satisfação. sabe o que realmente traz satisfação?

o quê?
Oferecer aos outros o que temos para dar.
Parece conversa de escoteiro.
Não falo de dinheiro, Mitch. Falo de tempo útil. de interesse por outros. de contar-lhes histórias. não é tão difícil. abriram aqui perto um centro para a terceira idade. dúzias de idosos vão a ele todos os dias. Qualquer jovem, homem ou mulher, que domine um conhecimento, é convidado a ir lá ensiná-lo. Computação, por exemplo. você vai lá e ensina computação. será recebido de braços abertos. E eles ficam muito agradecidos. É assim que se começa a inspirar respeito, oferecendo alguma coisa que se tem.
Há muitos lugares onde se pode prestar esses serviços. não é preciso ser craque em algum ramo. existe gente solitária em hospitais e abrigos que só almeja companhia. Quem joga baralho com um velhinho solitário adquire um novo respeito por si mesmo.
Porque tornou-se necessário.
Lembra-se do que eu disse a respeito de achar um sentido para a vida? Tomei nota, mas já sei de cor: dedique-se a amar a outros,
dedique-se à sua comunidade, empenhe-se em criar alguma coisa que dê sentido e significado à sua vida.
Notou – acrescentou sorrindo – que não se fala aí de salário?
Mitch, se você está querendo se exibir para pessoas que estão por cima, desista. Faça o que fizer, elas olharão para você com superioridade. e se está querendo se exibir para os que estão por baixo, desista também. eles invejarão você, só isso. Posição não leva a nada. Só um coração aberto permite à pessoa flutuar em igualdade entre os semelhantes.
Fez uma pausa, olhou para mim. – estou morrendo, certo?
Certo.
Por que acha que é tão importante para mim escutar os problemas dos outros? Já não estou carregado de dor e sofrimentos? É claro que estou. Mas doar-me a outros é o que me faz sentir vivo. não é a minha casa nem o meu carro. não é o que o espelho me mostra. Quando dôo o meu tempo a alguém, quando consigo fazer alguém que está triste sorrir, sinto-me quase tão sadio como fui antes.
Faça aquilo que vem do coração. Fazendo, não ficará insatisfeito, não sentirá inveja, não estará aspirando a bens que pertenceram a outros. Pelo contrário, ficará assombrado com o que receberá de volta.
O problema Mitch é não acreditarmos que os seres humanos são parecidos. brancos e negros, católicos e protestantes, homens e mulheres. se olhássemos uns para os outros como iguais, talvez sentíssemos o desejo de nos unirmos, formando uma grande família humana no mundo, e nos dedicarmos a essa família com nos dedicamos à nossa família particular.
Mas quando se está morrendo vê-se quanto isso é verdadeiro. Todos temos o mesmo começo, o nascimento, e o mesmo fim, a morte. Assim, onde ficam as grandes diferenças?
investir na família humana. investir em gente. Formar uma pequena comunidade com aqueles que amamos e que nos amam.

“Perdoe a si mesmo antes de morrer. depois perdoe os outros.”

* de o sentido da vida. Mitch albom. rio de Janeiro, gMt, 1998

SOBRE A MORTE E O MORRER

SOBRE A MORTE E O MORRER
                                                                                                                    Por: Rubem Alves
                                                                                      Coletânea de textos sobre Cuidados Paliativos e tanatologia
                                                                                        http://www.ufpel.tche.br/medicina/bioetica/cuidadospaliativosetanatologia.pdf



Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais. O que sinto é uma enorme tristeza. Concordo com Mário Quintana: “Morrer, que me importa? (...) o diabo é deixar de viver.” a vida é tão boa! não quero ir embora...
Eram 6h. Minha filha me acordou. Ela tinha três anos. Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara: “papai, quando você morrer, você vai sentir saudades?”. Emudeci. Não sabia o que dizer. Ela entendeu e veio em meu socorro: “não chore, que eu vou te abraçar...” ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade.
Cecília Meireles sentia algo parecido: “E fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. nem barcas, nem gaivotas. apenas pobre humanas companhias... Com que tristeza o horizonte avisto, aproximado e sem recurso. Que pena a vida seja só isto...”
da. Clara era uma velhinha de 9 anos, lá em Minas. vivia uma religiosidade mansa, sem culpas ou medos. na cama, cega, a filha lhe lia a Bíblia. De repente, ela fez um gesto, interrompendo a leitura. O que ela tinha a dizer era infinitamente mais importante.
“Minha filha, sei que minha hora está chegando... Mas, que pena! A vida é tão boa...”
Mas tenho muito medo de morrer. O morrer pode vir acompanhado de dores, humilhações, aparelhos e tubos enfiados em meu corpo, contra a minha vontade, já não sou mais dono de mim mesmo; solidão, ninguém tem coragem ou palavras para, de mãos dadas comigo, falar sobre a minha morte, medo de que a passagem seja demorada. bom seria se, depois de anunciada, ela acontecesse de forma mansa e sem dores, longe dos hospitais, em meio às pessoas que se ama, em meio a visões de beleza.
Mas a medicina não entende. um amigo contou-me dos últimos dias do seu pai, já bem velho. as dores eram terríveis. era-lhe insuportável a visão do sofrimento do pai. Dirigiu-se então, ao médico: “O senhor não poderia aumentar a dose dos analgésicos?”.
O médico olhou-o com olhar severo e disse: “O senhor está sugerindo que eu pratique a eutanásia?”.
Há dores que fazem sentido, como as dores do parto: uma vida nova está nascendo. Mas há dores que não fazem sentido nenhum. seu velho pai morreu sofrendo uma dor inútil. Qual foi o ganho humano? Que eu saiba, apenas a consciência apaziguada do médico, que dormiu em paz por haver feito aquilo que o costume mandava; costume a que freqüentemente se dá o nome de ética.
Um outro velhinho querido, 9 anos, cego, surdo, todos os esfíncteres sem controle, numa cama – de repente um acontecimento feliz! O coração parou. Ah, com certeza fora o seu anjo da guarda, que assim punha um fim à sua miséria! Mas o médico, movido pelos automatismos costumeiros, apressou-se a cumprir o seu dever; debruçou-se sobre o velhinho e o fez respirar de novo. sofreu inutilmente por mais dois dias antes de tocar de novo o acorde final.
Dir-me-ão que é dever dos médicos fazer todo o possível para que a vida continue. eu também, da minha forma, luto pela vida. a literatura tem o poder de ressuscitar os mortos. aprendi com albert schweitzer que a “reverência pela vida“ é o supremo princípio ético do amor. Mas o que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de um ser humano? O que e quem a define? O coração que continua a bater num corpo aparentemente morto? Ou serão os zigue-zagues nos vídeos dos monitores, que indicam a presença de ondas cerebrais?
Confesso que, na minha experiência de ser humano, nunca me encontrei com a vida sob a forma de batidas de coração ou ondas cerebrais. A vida humana não se define biologicamente. Permanecemos humanos enquanto existe em nós a esperança da beleza e da alegria. Morta a possibilidade de sentir alegria ou gozar a beleza, o corpo se transforma numa casca de cigarra vazia.
Muitos dos chamados “recursos heróicos” para manter vivo o paciente são, do meu ponto de vista, uma violência ao princípio da “reverência pela vida”. Porque, se os médicos dessem ouvidos ao pedido que a vida está fazendo, eles a ouviriam dizer: “Liberta-me”.
Comovi-me com o drama do jovem francês vincent Humbert, de anos, há três anos cego, surdo, mudo, tetraplégico, vítima de um acidente automobilístico. Comunicava-se por meio do único dedo que podia movimentar. e foi assim que escreveu um livro em que dizia: “Morri em 24 de setembro de 2000 desde aquele dia, eu não vivo. Fazem-me viver. Para quem, para que, eu não sei...”. implorava que lhe dessem o direito de morrer. Como as autoridades, movidas pelo costume e pelas leis, se recusassem, sua
mãe realizou seu desejo. a morte o libertou do sofrimento.
Dizem as escrituras sagradas: “Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer”. A morte e a vida não são contrárias. são irmãs. a “reverência pela vida” exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir.
Cheguei a sugerir uma nova especialidade médica, simétrica à obstetrícia: a “morienterapia”, o cuidado com os que estão morrendo. a missão da morienterapia seria cuidar da vida que se prepara para partir. Cuidar para que ela seja mansa, sem dores e cercada de amigos, longe das UTIs. Já encontrei a padroeira para essa nova especialidade: a “Pietá” de Michelângelo, com o Cristo morto nos seus braços. nos braços daquela mãe o morrer deixa de causar medo.

AS ORIGENS DA MEDICINA PALIATIVA

Coletânea de textos sobre Cuidados Paliativos e tanatologia
                                                     http://www.ufpel.tche.br/medicina/bioetica/cuidadospaliativosetanatologia.pdf

AS ORIGENS DA MEDICINA PALIATIVA *
                                                     Por: Derek Doyle, Geoffrey W. C. Hanks e Neil MacDonald


Presumivelmente, o homem tem tentado aliviar o sofrimento do seu semelhante, desde o seu aparecimento na terra. a história dos hospices está bem documentada a partir da Idade Média, seguindo-se a sua evolução no final do século 19 até as últimas décadas do presente século, quando ocorreu a sua proliferação a nível mundial. as origens da Medicina Paliativa como uma disciplina digna de ser praticada, estudada e pesquisada são mais recentes, alcançando apenas anos.
Ao final do século 19 e nas primeiras décadas do século 20, o que mais podia fazer um médico senão exercer uma medicina paliativa? Por mais que ele desejasse, haviam muito poucas doenças passíveis de serem submetidas à cirurgia curativa, a maioria dos processos mórbidos curáveis são as infecções. Os nossos antepassados não dispunham de antibióticos, e mesmo então, toda a habilidade que possuíam era canalizada para o alívio e a paliação.
Então as coisas passaram a mudar. Os avanços da anestesia propiciaram avanços mais ousados da cirurgia radical.  Os antibióticos surgiram em cena para combater as infecções mais comuns e, ao menos no mundo ocidental, reduziram a sua mortalidade. infelizmente isso não ocorre em muitas outras partes do mundo. Avanços, descobertas e progressos ocorreram em todos os campos da medicina – radiologia, medicina nuclear, imunologia, radioterapia, quimioterapia do câncer … a lista é interminável. As novas gerações de médicos deixaram a escola de medicina sabendo que eles jamais veriam mortes pela difteria, varíola, poliomielite, mas seriam capazes de enfrentar com facilidade as infecções mais sérias em casa de seus pacientes, bem assim como poderiam esperar confiantes em alcançar a cura de alguns doentes de câncer.
Nós temos toda a razão de nos orgulhar das descobertas médicas e avanços ocorridos na segunda metade deste século. Nós temos à nossa disposição, procedimentos de investigação jamais sonhados há 50 anos atrás, uma abrangente farmacopéia contendo apenas algumas das drogas então usadas, e um aglomerado de novas especialidades médicas refletindo estes avanços. Enquanto tudo isso acontecia, mudanças sutis estavam ocorrendo no pensamento médico e atitudes. e também na educação médica.
Imperceptivelmente os médicos começaram a mudar o objetivo, passando do cuidado paliativo para a cura absoluta. ninguém lhes ensinou ou lhes falou a respeito, mas olhando-se para trás, a mudança de atitude e de aproximação começou ao redor do início da era dos antibióticos. Pela primeira vez, a cura pareceu estar próxima em doenças até então caracterizadas por elevado índice de mortalidade. Investigações e tecnologias altamente sofisticadas não só trouxe uma maior precisão para os nossos diagnósticos,
mas aumentaram enormemente o nosso conhecimento sobre o curso natural de alguns processos mórbidos levando-nos a pensar, acertadamente, que o diagnóstico precoce – em particular no câncer – poderia aumentar as chances de cura. a crescente base “científica” da moderna medicina agradou a uma profissão que, certo ou errado, considerava-se como “científica”.
Insidiosamente, imperceptivelmente, os médicos passaram a encarar-se a si mesmos como diagnosticistas e terapeutas (sejam cirúrgicos, farmacológicos ou de  radiação). os hospitais passaram a ser considerados como lugar de investigação, tratamento e alta precoce para o domicílio. aqueles que não podiam ser curados, ou ao menos colocados em estado de remissão, eram freqüentemente considerados indignos de receber atenção médica altamente qualificada. Àqueles que estavam à morte dava-se a mais baixa prioridade médica, e a morte deixou de ser considerada um fato da vida como sempre o fora, mas uma derrota médica, ou
pior ainda, um embaraço estatístico.
Seria uma clamorosa injustiça lançar toda a culpa nos médicos, deixando de considerar as mudanças paralelas ocorridas na educação médica. Mais uma vez as mudanças foram sutis e não pareceram ser insignificantes. O currículo já muito sobrecarregado foi podado aqui, acrescentado ali, para acomodar detalhes dos avanços acima referidos de um conhecimento científico sempre crescente. detalhes mais “softs” como habilidade em comunicação, ética, aspectos psicológicos da medicina, etc, receberam tempo
menor, e foram relegados para níveis de baixa prioridade, ou completamente omitidos.
Até poucos anos atrás, os jovens médicos saiam das escolas de medicina com uma base de conhecimento abrangente e com quase inalcançáveis expectativas profissionais sobre o que eles poderiam fazer e oferecer, e uma temerária escassez de habilidades e de atitudes essenciais para o exercício humano da medicina. As coisas estão mudando.  Como muitas coisas parecem óbvias quando as olhamos retrospectivamente enquanto isto estava acontecendo – e não nos esqueçamos da importância e o impacto do real desenvolvimento da medicina – uma intraqüilidade a respeito das mudanças manifestava-se em muitos, em diversos escalões da vida, pois este problema “médico” era apenas parte de uma grande revolução
social. alguns médicos tornaram-se insatisfeitos e procuraram mudar a situação. as enfermeiras, que por um momento mal notaram ter sido transformadas em cúmplices de regimes de cuidados altamente tecnificados e científicos, o que muito lhes agradava, começaram também a ficar incomodadas. Notavelmente relutantes como a maioria dos pacientes em queixar-se ou hesitantes emrelatar a respeito da qualidade do atendimento recebido, algumas confessavam agora, que elas perceberam que um grupo particular de pacientes, aqueles em processo de morrer, recebia um atendimento aquém do ótimo. Os estudos confirmaram que o controle da

dor era inadequado, os sintomas não eram aliviados, os temores não eram aplacados, as necessidades espirituais não eram reconhecidas, e as visitas domiciliares pelos médicos tornavam-se menos freqüentes. estudo após estudo em hospital e na comunidade, realizados em diversos países apontaram para o mesmo resultado – os em processo de morte formam um grupo negligenciado e em desvantagem dentro dos modernos sistemas de cuidados de saúde.
Aqueles mais capazes de introduzir as mudanças são os médicos, já alertados e perturbados, e agora cônscios da intranqüilidade das enfermeiras e da insatisfação dos pacientes. os médicos viram claramente que cuidados melhores aos pacientes terminais não significa uma volta aos “tempos antigos”, nem qualquer rejeição dos avanços médicos científicos, mas sim uma saudável união entre ambos. se eles tivessem usado o jargão médico, provavelmente eles teriam dito “Ciência e compaixão não são antagonistas – eles são simbióticos”. e assim o “cuidado hospice” foi aplicado ao paciente terminal, cuidado que embora seja holístico não deixa de ser científico. Os anos passaram e com eles veio a compreensão que estes pacientes precisam e merecem esta qualidade de cuidado não só no fim, mas desde o minuto em que seu médico e os parentes, pesarosamente reconhecem que o tempo é curto.  Eassim nasceu a medicina paliativa.
 
  * oxford textbook of Palliative Medicine, edited by derek doyle, geoffrey W. C. Hanks and neil Macdonald. oxford university Press, 199 . Chapter 1, introduction (traduzido por Prof. dr. Marco tullio de assis Figueiredo).

MORIR CON DIGNIDAD

Coletânea de textos sobre Cuidados Paliativos e tanatologia
                                             http://www.ufpel.tche.br/medicina/bioetica/cuidadospaliativosetanatologia.pdf


                                                                                Marcos Goméz Sancho
                                                                                Las Palmas de Gran Canaria, Espanha.



INTRODUCCIÓN
Alo largo de la historia, siempre hubo una enfermedad que para la gente tenía connotaciones mágicas, demoníacas o sagradas.
En la antigüidad era la lepra y curarla era uno de los milagros más frecuentes en la vida de Cristo. en la edad Media, era la sífilis y actualmente es el cáncer la enfermed tabú. Carece del halo romántico que a principios de siglo tuvo la tuberculosis, incurable casi siempre, y comparte con la lepra y con la sífilis que no debe ser pronunciado su nombre. Los médicos utilizan eufemismos para invocarlo, la mayoria de las veces de forma incomprensible para le lego con el fin de disimular. Cáncer equivale a mutilación y muerte y aunque es cierto que existen otros padecimientos igualmente mortales, el cáncer está considerado ahora
como la enfermed incurable por excelencia.
Lepra, peste, sífilis etc. al hacerse curables, han perdido su carácter tremendo y sagrado y estas características las ha heredado el cáncer.
Dado el enorme progreso de la Medicina, las enfermedades infecciosas han sido eliminadas prácticamente como peligro de muerte; cuadros tan graves antãno como la diabetes, se han vuelto perfectamente controlables e incluso las enfermedades cardiovasculares suelen tener  un decurso lento y permitir cierto control. a pesar de que como causa de muerte las enfermedades cardiovasculares superan al cáncer, este tiene una connotación de la cual carecen aquéllas.
Posteriormente, el desarollo de la cirurgía, la anestesia y la reanimación etc. ha hecho posible la realización de trasplantes de órganos y más modernamente, de órganos artificiales. Todo ello ha conducido a un grande incremento en las expectativas de vida, que han pasado de los 40 años al principio de siglo, a los casi 80 de la actualidad. Esto, como es lógico se refiere a los países desarrollados. nunca debemos olvidar que actualmeente mueren .00 niños cada dia y que en muchos países (nordeste del brasil, afganistán etc.) las expectativas de vida al nacer no llegan a los 40 años, es decir, igual que el siglo pasado.
Todos estos avances han generado en la sociedad una especie de delirio de inmortalidad, otorgando al médico una sabiduría, omnipotencia y omnisapiencia que, lógicamente, no possui.


EL HOMBRE ANTE LA MUERTE EN LA SOCIEDAD DE HOY
Debemos hacer un breve análisis del comportamiento del hombre ante la muerte para poder entender el comportamiento del hombre, de la sociedad, ante el cáncer (que aparece como sinónimo) y ante los enfermos que caminam decididamente hacia ella, es decir los enfermos terminales.
es preciso destacar que durante muchos siglos los hombres morían de una manera bastante similar, sin grandes cambios, hasta hace quatro o cinco décadas que, de repente, comenzó a cambiar de forma radical.
antaño, el hombre moría en su casa, rodeado de su familia (incluidos los niños), amigos y vecinos. los niños tenían así contacto temprano y repetido con la muerte: primero sus abuelos, después sus padres etc. Cuando se hacía mayor y le tocaba morir a él, desde luego no le pillaba tan de sorpresa y desprovisto de recursos como sucede hoy. Hoy a los niños precisamente se les aleja de la casa cuando alguien va a morir.
El enfermo era el primero en saber que iba a morir (“Sintiendo que su final se acercaba…”). Hoy por el contrario, al enfermo casi siempre se le oculta la gravedad de su enfermedad.
eran los momentos de los grandes amores, perdones y despedidas. los repartos de haciendas, los últimos consejos a los hijos.
El sacerdote acudía a la casa del enfermo a darle la extremaunción (viático) con el monaguillo tocando la campanilla. los ciudadanos se unían a la comitiva. Hoy, por el contrario, es frecuente que no se autorice la entrada del sacerdote por miedo a que el enfermo “sospeche” su gravedad. tan es así, que la iglesia se ha cansado de dar la extremaunción a cadáveres y en el ° Conciliio vaticano le han cambiado el nombre para llamarlo sacramento de los enfermos, de forma que no haya duda de que la persona que lo recibe debe estar consciente y saber lo que está sucediendo. aún así, se sigue viendo en esquelas de los periódicos, que todo el
mundo ha muerto “después de recibir los santos sacramentos y la bendición de su santidad”, aunque la persona haya muerto de repente contra un árbol en la carretera o de un infarto en la oficina.

Al tabú del sexo de los últimos tiempos le ha sucedido el tabú de la muerte. Ahora se pueden contemplar escenas eróticas en cualquier sitio y a cualquier hora y sin embargo está prohibido hablar de la  muerte.
ahora, lógicamente los niños no vienen de París, pero con frecuencia es el abuelito el que “se ha ido de viaje”. al debate del aborto va sucediendo poco a poco el de eutanasia etc. Y se oculta la muerte, se oculta todo lo que nos recuerde a ella (enfermedad, vejez, decrepitut etc.). nada que tenga que ver con la muerte es aceptado en el mundo de los vivos.
Esto se ha traducido en un cambio radical en las costumbres y ritos funerarios y del duelo. no hace  mucho, el cadáver era velado en la casa, donde acudían los amigos y conocidos. a continuación, un coche fúnebre con el ataúd abría la comitiva que, a pié, acompañaba al muerto hasta el cementerio. todo esto sería hoy impensable y el embate del modernismo ha introducido múltiples innovaciones. al coche fúnebre le sustituye una berlina gris que se confunde en la vorágine de la circulación. el cadáver el velado en los tanatorios, a las afueras de ciudades, cuanto más lejos mejor. Allí se puede encontrar de todo: flores, bar, restaurante etc.
emprezas especializadas se encargan de lo que ya es el “gran negocio de la muerte “, sobre todo en los estados unidos. Ha aumentado el número de cremaciones y es habitual la tanatopraxia, por la cual y a través de personal debidamente formado, se procede a restaurar el cadáver (heridas, etc.) y a su embellecimiento por medio de maquillaje, masajes, cremas etc. se asiste en la actualidad a una verdadera desritualización, a una desimbolización y a una profesionalización de las conductas funerarias.
La muerte es el fracaso total de la sociedad construida sobre el binomio de la producción y del consumo. Anuncia el fin del consumo. Y en un último esfuerzo consigue todavía transformar la propria muerte en mercancía de consumo en correspondencia con el estatus social.
Decía reverdin que en la sociedad que vivimos, donde los medios de comunicación nos bombardean continuamente con un prototipo de imagen a imitar (Gente joven y guapa), donde el objetivo es la acumulación de bienes, de fama u de poder, poco tiempo y ganas hay de pensar en el asunto escabroso de nuestra finitud, de nuestra propria muerte. En los años sesenta, se gastaron en los estados unidoos billones de dólares en productos cosméticos y rejuvenecedores y solamente 1 billón en cuidar a sus ancianos.
así nos encontramos con una sociedad que, siendo mortal, rechaza la muerte. este rachazo social a la muerte, no creo precisamente que le haya ayudado al hombre en el momento en que tiene que enfrentarse a ella. Contrasta, en efecto, este rachazo total por parte de la sociedad y la angustia, mayor que nunca, que el hombre, individualmente, siente ante ella.
Esta sensación del hombre ante la muerte, ha sido perfectamente descrita por Ariès: “los hombres o bien intentan ponerse al abrigo de la muerte, como se ponen al abrigo de una bestia salvaje en libertad, o bien le hacen frente, pero están entonces reducidos únicamente a su fuerza y a su coraje, en un enfrentamiento silencioso, sin el auxilio de una sociedad que ha decidido, de una vez por todas, que la muerte no es su asunto”.
Se observa lo que se ha dado en llamar desocialización de la muerte, expresión que hace referencia a la falta de solidaridad y al abandono con respecto a los moribundos, los difuntos y también los supervivientes. el corolario de esta atitud es la sustitución de funciones. acompañar al agonizante, amortajar el cadáver, velarlo, recibir las visitas de pésame son cosas que hoy día los familiares ya no quieren hacer, aunque tengan que pagar para que otros los hagan en su lugar.de aquella primera fase, que podríamos denominar de muerte familiar, se ha pasado a una muerte escamoteada, escondida, ocultada. Ariès decía que era como la imagen negativa o invertida: “todo ocurre como si nadie supiera que alguien va a morir, ni los familiares más cercanos, ni  el médico… ni siquiera el sacerdote cuando, con un subterfugio, se le hace venir. Cosificado,
reducido a una suma orgánica de síntomas, difunto ya en el sentido etimológico del término (privado de función), al moribundo ya no se le escucha como a un ser racional, tan sólo se le observa como sujeto clínico, aislado cuando ello es posible, como un mal ejemplo y se lo trata como a un niño irresponsable cuya palabra no tiene sentido ni autoridad. los moribundos ya no tienen status y por lo tanto, tampoco tienen dignidad.
Poco tiempo se tardó en averiguar cual era el sitio ideal para esconder al moribundo: el hospital. actualmente la mayoría de las personas van a morir al hospital. aunque hay diferencias entre los  distintos países, incluso dentro del mismo país también hay diferencias entre el medio urbano y el medio rural, la realidad es que hoy aproximadamente el 80% de las personas muere en el hospital.

SUPERANDO O PRECONCEITO DE FALAR SOBRE A MORTE

 Coletânea de textos sobre Cuidados Paliativos e tanatologia
                            http://www.ufpel.tche.br/medicina/bioetica/cuidadospaliativosetanatologia.pdf


SUPERANDO O PRECONCEITO DE FALAR SOBRE A MORTE  Bel Cesar
Terapeuta. Dedica-se ao atendimento de pacientes que enfrentam o processo da morte


se quisermos viver melhor, nos sentirmos inteiros e participantes do mundo, precisaremos superar o preconceito de falar sobre a morte. A morte coloca a vida em perspectiva: definimos melhor os nossos propósitos quando refletimos sobre nosso passado, presente e futuro.
Precisamos superar nossa tendência niilista frente à morte: uma idéia limitada de finitude, de que quando tudo acaba não há mais nada por vir. ao ampliarmos a visão de quem somos, de onde viemos e para onde vamos podemos incluir a morte em nossa vida como um modo de aprofundar o sentido de estarmos vivos.
ao encararmos a morte, reconhecemos que não somos perfeitos e sim paradoxais. Quem não conhece a constante luta interna de querer e não querer algo o tempo todo?
Carl Jung dizia que para uma pessoa se sentir completa terá de aceitar o fardo de viver conscientemente com tendências opostas, irreconciliáveis inerentes à sua natureza, tragam elas a conotação de bem ou de mal, sejam escuras ou claras. Apenas quando acolhemos nossos paradoxos é que nos sentimos inteiros.
não queremos falar sobre a morte, mas contamos com a idéia de que vamos morrer para nos sentirmos vivos. a idéia de que um dia vamos morrer, nos ajuda a lidar com os sofrimentos da vida: uma perspectiva de alívio, de que um dia os sofrimentos desta vida acabarão quando morrermos. Mas não queremos morrer.
esse é um dado importante. Queremos acabar com o sofrimento desta vida, mas não morrer.
Segundo Eliot Jay Rosen, em Colhendo a alma (Ed. Best Seller), a magnitude de nosso desconforto em relação à morte está em proporção direta ao tanto que fomos afetados por meio de três importantes fatores:
1.  Até que ponto fomos expostos à visão negativa que a sociedade moderna tem da morte, e como fomos marcados por ela;
2.  Falta de informação a respeito dos processos fisiológico, psicológico e espiritual que ocorrem na morte;
3.  Ignorância quanto às provas científicas e depoimentos inspiradores que endossam o fato de que a morte é uma transição para outra realidade e não um fim.
Até que ponto fomos expostos à visão negativa que a sociedade moderna tem da morte, e como fomos marcados por ela? a idéia que temos da morte é o rótulo que damos aos nossos condicionamentos culturais. em geral, presenciamos a morte de maneira violenta e negativa. Nos jornais e na TV, a morte é assistida com violência, à distância. Parece que ela só acontece com os outros. No entanto, ao não presenciarmos a morte como pacífica e natural, não interiorizamos a possibilidade de nossa própria morte como um evento positivo. temos medo do dia em que “chegar a nossa vez”.
Podemos superar o preconceito de pensar ou falar sobre a morte, mas enquanto não tivermos alguma experiência direta com a morte, nossa idéia a seu respeito será apenas intelectual, limitada por nossa própria falta de experiência.
Podemos conhecer a morte de um ponto de vista cultural, religioso, científico ou histórico, mas continuamos sem saber o que mais nos toca: quando e como nossa morte ocorrerá. Quando esse momento se aproxima é que nos damos conta de que deveríamos saber muito mais sobre ela. ao sermos tocados pela idéia de nossa própria morte como uma realidade certa, podemos suavizar esse impacto, ao nos prepararmos desde já para esse momento. a morte é um conceito que adquirimos de acordo com nossa personalidade, ambiente social, cultural e religioso e educação familiar. nossa visão de morte está contaminada. então, temos de revê-la. se nos concentrarmos nela, vamos perceber que muitas de nossas idéias arquivadas são contraditórias.
se fecharmos os olhos e repetirmos a palavra “morte”, inúmeras vezes iremos constatar que cada vez que dissermos essa palavra, surgirão pensamentos, imagens e sentimentos diferentes. na maioria das vezes, eles são antagônicos. se continuarmos essa experiência de mergulhar até onde leva a palavra “morte”, notaremos que algo muda positivamente em nosso interior. a experiência direta é um antídoto potente para superarmos nossas resistências. Podemos trabalhar com os nossos preconceitos; não estamos destinados a ficar presos a eles.

Recuperar as memórias de infância sobre a morte também pode ajudar-nos a compreender a base onde está alicerçada nossa estrutura emocional frente a mudanças e perdas. dedicar-se a recordá-las é, portanto, de grande importância para o processo de autoconhecimento.
Falta de informação a respeito dos processos fisiológico, psicológico e espiritual que ocorrem na morte.
Em 1993, Sherwin Nuland, o cirurgião e professor de medicina, movido pela intenção de esclarecer e desmistificar o processo da morte, escreveu o livro “Como morremos: reflexões sobre o último capítulo da vida”. Este livro foi lançado no Brasil em 1995, pela Editora Rocco. Nuland escreve: “Todos querem conhecer a morte em detalhes, embora poucos se atrevam a confessar. Seja para antecipar os eventos de nossa doença final ou para melhor compreender o que está acontecendo a um ente querido à beira
da morte – ou mais provavelmente devido a essa fascinação do id pela morte que todos nós sentimos – somos atraídos por pensamentos sobre o fim da vida. Para a maioria das pessoas, a morte permanece um segredo oculto, tão erotizado quanto temido”.
Nuland descreve como se dá o processo da morte causado por um enfarte, por um derrame, por doenças como o mal de alzheimer, aids e câncer, bem como formas de suicídio ou por acidentes como sufocamento ou afogamento, por exemplo.
O desejo de muitos é morrer dormindo: uma forma de anestesiar a dor do processo de morrer. No entanto, na grande maioria das vezes o processo da morte se dá de forma lenta e difícil. Hoje a medicina já é capaz de controlar a dor física, mas ainda não considera a dor emocional e espiritual como uma prioridade.
Morrer não é romântico. Precisamos nos preparar para conhecer esse processo de modo a aceitá-lo como uma condição humana e não como uma falha humana. a idéia de proporcionar uma morte digna para aqueles que amamos muitas vezes está inocentemente associada a uma morte sem dor, ausente de processos degenerativos do corpo humano difíceis e desagradáveis de serem testemunhados. não podemos nos sentir culpados por nossa natureza humana. isto é, precisamos aceitar o processo natural do envelhecimento, a falência precoce dos órgãos vitais, ou seja, um processo degenerativo da doença como um fenômeno próprio
de nossa natureza humana.
O sentimento de impotência frente à morte é freqüente naqueles que presenciam um processo de morte sofrido ou precoce.
Muitas vezes, surge um sentimento de culpa por “não ter sido capaz de fazer mais nada”.
Esse sentimento de culpa é resultante de uma super-avaliação de nós mesmos: pensamos que poderíamos ter feito algo que, na realidade, não nos cabia fazer. um dos motivos por que isso acontece é por que encaramos a morte sempre como uma derrota. outro motivo é por que confundimos os nossos sentimentos com os sentimentos dos outros. aqui incluo um trecho de meu livro “Morrer não se improvisa” (ed. gaia), extraído das páginas 179 e 180. Muitas vezes não sabemos o que acontece dentro de nós, mas temos “certeza” do que acontece com os outros. temos o hábito de concluir, sem consultá-los, o que eles pensam e porque
agem de determinada maneira.
Quando a pessoa com quem temos o hábito de pensar “por ela” está morrendo, ilusoriamente pensamos ser capazes de fazer algo no lugar dela. Queremos fazer de tudo para aliviá-la da dor e de seus conflitos emocionais. Mas uma vez que não atingimos nosso objetivo de acalmá-la, sentimos culpa, como se não tivéssemos feito o suficiente. Precisamos compreender e aceitar que nada podemos fazer no lugar de outra pessoa, a não ser inspirá-la a fazer algo por ela mesma. Por isso, é saudável reconhecer que a morte é algo natural e que não há nada de errado em morrer. assim, poderemos abandonar a culpa, baseada em pensamentos de que sempre poderíamos ter feito mais.
O sentimento de culpa também está presente na pessoa que está morrendo. Muitas vezes, ela se sente “responsável” pela sua doença e um peso para a sua família. Também se sente culpada por “abandonar” aqueles que ficam: pais, filhos ou marido. Essa sensação surge quando pensamos ser capazes de estar sempre presentes quando o outro precisar de nós. assim como uma mãe gostaria de poder consolar seu filho sempre que ele necessitasse de consolo.
Durante a vida, temos inúmeras oportunidades para aceitar as separações como resultado natural de um encontro - especialmente quando alguém se separa de nós sem esclarecer a razão de sua atitude. aí temos a oportunidade de superar a idéia, pretensiosa, de que teríamos o direito de compreender a razão de tudo e, portanto, de controlar a situação. se aprendermos a aceitar de que nada é permanente, poderemos aprender a nos separar. Por isso, também é saudável reconhecer que não há nada de errado em se separar.
repetir inúmeras vezes as frases não há nada de errado em morrer e não há nada de errado em se separar pode nos ajudar a superar a culpa e a aceitar a realidade. no livro A Arte de Morrer, Marie de Hennezel (Ed. Vozes) escreve: “O ‘tempo de morrer’ tem um valor. acompanhar esse tempo exige de todos uma aceitação diante do inelutável, do inevitável, que é a morte. isso implica o reconhecimento de nossos limites humanos. seja qual for o amor que sintamos por alguém, não podemos impedi-lo de morrer, se esse é o seu destino. também não podemos evitar um certo sofrimento afetivo e espiritual que faz parte do processo de morrer
de cada um. Podemos somente impedir que essa parte de sofrimento seja vivida na solidão e no abandono; podemos envolvê-la de humanidade”.
Aqueles que testemunharam o processo de uma morte e se deixaram tocar pelos poderosos efeitos dessa experiência buscaram ampliar a sua visão de mundo. assistir alguém morrendo torna-nos conscientes de nossos limites humanos e leva-nos a ser mais realistas e menos pretensiosos quanto às nossas possibilidades. Assim como, podemos encarar a morte de maneira positiva, independentemente deste processo ser sofrido ou não.

Ignorância quanto às provas científicas e depoimentos inspiradores que endossam o fato de que a morte é uma transição para outra realidade e não um fim.acreditamos que vamos morrer, mas não sabemos que vamos morrer. acreditar é uma função mental, uma parte de nós. Mas saber algo envolve todo o nosso ser enquanto seres pensantes, sensíveis e intuitivos. estamos estancados na crença da idéia de morte como aniquilação.
Nuland escreve em “Como morremos”: “Nenhum de nós parece psicologicamente apto a lidar com o pensamento de nosso estado de morte, com a idéia de uma inconsciência permanente em que não existe vazio nem vácuo - e simplesmente não existe nada. Isso parece tão diferente do nada que precede a vida.”
Como não é natural pensar em algo que não tenha continuidade, não damos sustentação à idéia de não sermos nada. A certeza de uma continuidade após a morte nos ajuda a lidar com o niilismo de nossa cultura materialista, em que o abstrato e o invisível não é reconhecido como verdadeiro e possível. no entanto, não devemos cair no extremo de querer deixar a morte “leve” demais, buscando uma visão poética na qual também estaremos escondendo nosso medo de encará-la.
Associamos a idéia de estarmos vivos à nossa capacidade de nos mantermos em movimento. Portanto, temos a tendência a concluir que onde houver movimento, haverá continuidade. Por isso, quando nos deparamos frente a paralisação do corpo devido à morte, imediatamente concluímos que o processo de continuidade da mente também tenha sido interrompido. Mas tanto as tradições religiosas mais antigas e assim como as recentes pesquisas da metafísica reconhecem que o homem é um ser transcendental.
Jean-Pierre Bayard escreve em “Sentido oculto dos ritos mortuários” (Ed. Paulus): “A maioria das civilizações antigas presta cultos aos antepassados. Seu pensamento é que a pessoa que morreu continua a viver em outra sociedade, sensivelmente da mesma forma que em sua existência terrestre, com alegrias e sofrimentos comparáveis”.
Como em nossa sociedade de consumo os rituais fúnebres são cada vez menos praticados, nós nos distanciamos das práticas que nos levavam a reconhecer a nossa natureza transcendental: quem somos além da matéria física e aparente. Precisamos aprender a ver além das aparências imediatas. temos que reconhecer a existência dos níveis sutis da realidade, que não são concretos ou mensuráveis.
A física quântica esclareceu que a energia apresenta uma propriedade fundamental: jamais se esgota. Isto é, a energia não se extingue, transforma-se em outra uma forma de energia.
Quando einstein formulou E=mc² (A energia é igual à massa vezes o quadrado da velocidade da luz), trouxe a idéia da equivalência entre massa e energia, que podem transformar-se uma na outra, sendo que a densidade da massa - mais ou menos sutil - está relacionada com a velocidade de deslocamento. desta forma, podemos compreender que quando falamos de “corpo sutil”, podemos estar falando de um estado energético onde a massa desse corpo desloca-se com muito mais velocidade.
A matéria é energia condensada, ou seja, essa energia pode se apresentar em diferentes estados de concentração, dependendo do quanto as partículas ou moléculas estão coesas. assim, quando temos um estado energético em que as moléculas estão muito coesas, temos uma matéria mais densa ou cristalizada, como nosso corpo físico. Quando as moléculas de energia estão menos coesas, temos o corpo sutil.
Enquanto não ampliarmos a idéia de quem somos, teremos dificuldade de compreender que não somos apenas uma mente pensante!
Podemos observar a continuidade dos ciclos na natureza: quando um quando cai no chão, apodrece, e de sua semente uma nova árvore irá nascer. ao olharmos para uma semente, reconhecemos o seu potencial de se tornar árvore, mesmo não podendo ainda ver essa árvore. então, apesar de não podermos assistir o que ocorre entre a morte e o nascimento, podemos reconhecer que, sendo seres naturais, também somos cíclicos!
Atribuir valor à continuidade é uma virtude que independe de crenças sobre a reencarnação. Acreditar ou não em reencarnação é o resultado de uma experiência pessoal. no entanto, vivermos em função da continuidade torna-nos mais responsáveis pelas conseqüências de nossos atos. deixar um mundo menos poluído para aqueles que nele permanecem quando nós não estivermos mais presentes é um exemplo desta consciência. em vida, resgatamos paz interior, dignidade e bem estar cada vez que aprendemos a optar pelo que nos parece melhor, tanto para nós quanto para os outros.
A idéia de optar por nosso modo de vida já nos exige constante dedicação ao contínuo processo de autoconsciência e compaixão. Por isso, temos que parar para refletir sobre a seguinte pergunta: o que significa optar pelo nosso modo de morrer?
Optar é um termo que indica uma escolha consciente. escolher é uma forma de controle que nos traz uma sensação de segurança, de que podemos nos oferecer o que consideramos melhor. Mas, como podemos escolher se tanto a vida como a morte são processos incertos, portanto incontroláveis?
não podemos escolher nem controlar os fatos que irão ocorrer em nossa vida e muito menos no momento de nossa morte, mas podemos, sim, escolher - e desta forma controlar, por meio do autoconhecimento e do desenvolvimento da autoconfiança, o modo como iremos reagir perante eles.
Morremos como vivemos: com nossos hábitos mentais, impulsos que podem ser transformados. Podemos escolher cuidarmos de nós mesmos. Podemos educar nossa mente a seguir positivamente, isto é, a reagir positivamente às adversidades. Podemos treinar a mente a atravessar as dificuldades em vez de negá-las ou de criar uma aversão por elas.
Aquele que lida diretamente com suas dificuldades sabe seguir em frente sem se deixar prender por aquilo que deixou para trás.aquele que quiser se preparar em vida para o momento de sua morte buscará eliminar seus hábitos mentais negativos, que o impedem de relaxar na sua natureza de confiança incondicional. Como diz o mestre budista tibetano Lama Gangchen Rimpoche: “se você estiver numa situação negativa no momento de sua morte, deve recordar-se que a negatividade não traz nada. Por isso, volte a atenção para sua concentração interna e para sua autoconfiança”.

Acredito que essa seja uma tarefa para uma vida inteira. Mas enquanto buscarmos a felicidade nas condições externas estaremos lutando para controlar o mundo à nossa volta. Não queremos admitir que essa luta é inútil, porque não admitimos que estamos continuamente sujeitos aos nossos condicionamentos internos.
não queremos sentir a vulnerabilidade e a confusão de nosso mundo interno. a subjetividade gera dúvidas. então, buscamos ser objetivos lidando somente com os fatos do mundo externo. É correto buscar a objetividade, mas o que não podemos fazer é nos afastarmos de nosso interior.
A base de nossa visão externa está em nosso mundo interno. toda vez que negamos nosso mundo interno estamos nos afastando de nós mesmos e, portanto, também dos outros à nossa volta. Como conseqüência passamos a nos sentir isolados, sem motivação, desconectados dos fatos externos. Emoções difíceis como vergonha, culpa e ressentimento contaminam nossos pensamentos, palavras e ações, que, por sua vez contaminam nossa realidade externa. se nos sentimos isolados em vida, o que dizer da sensação de isolamento que sentiremos quando estivermos enfrentando a morte?
Em vida disfarçamos essa angústia da solidão em atividades cotidianas, em nossos vícios e manias. Mas diante da morte não podemos nos locomover. não podemos mais buscar alívio para a mente nos prazeres físicos. temos que encarar a nós mesmos!
O mundo externo é uma projeção coletiva do mundo interno de cada um. As condições físicas e emocionais daqueles que estão morrendo são tão precárias quanto o contato interno que temos com o tema da morte. Precisamos, com urgência, acolher nossa vulnerabilidade frente à morte. Falar sobre ela. Assim, juntos, poderemos desenvolver uma consciência coletiva mais preparada para lidar com as necessidades físicas, emocionais e espirituais daqueles que estão frente à morte.
Ao superarmos o preconceito de falar sobre a morte, atenderemos às nossas necessidades ainda não vistas e consideradas pelo mundo externo. no entanto, só seremos capazes de incluir a morte em nossas vidas quando admitirmos com honestidade onde estamos e para onde queremos ir.
Em geral temos a tendência de reagir com impaciência, irritação e agressividade quando pensamos naquilo em que não queremos pensar. e quando se trata de pensar sobre a nossa própria morte ou a de outra pessoa, essa tendência aumenta ainda mais. então, vamos encontrar um meio delicado e ao mesmo tempo direto para sondar este tema que desperta áreas obscuras e preconceituosas tanto em nossa cultura como em nosso mundo interno. vamos falar de coração para coração. sem preconceitos. Não há nada de
errado em morrer quando as causas e condições amadurecem.

Coletânea de textos sobre Cuidados Paliativos e Tanatologia

Coletânea de textos  sobre Cuidados Paliativos  e Tanatologia
                                      http://www.ufpel.tche.br/medicina/bioetica/cuidadospaliativosetanatologia.pdf


Setor de Cuidados Paliativos da Disciplina de Clínica Médica da Unifesp (Ambulatório de Cuidados Paliativos)
Coordenador: Prof. Dr. Marco Tullio de Assis Figueiredo



e
sta apostila é na realidade uma coletânea de textos de tanatologia e Cuidados Paliativos, que logo no iní-
cio dos Cursos de Cuidados Paliativos ao Paciente Fora de recursos terapêuticos de Cura (1994) foram
realizados pelo Departamento Científico e Cultural do Centro Acadêmico Pereira Barreto, da Unifesp/
ePM, sob a minha orientação. em 1994, o laboratório Cristália patrocinou a montagem da apostila; a seguir, o
próprio Centro Acadêmico assumiu a sua edição, e finalmente a Pró-Reitoria de Extensão deu-lhe um formato
mais bonito e didático. Mas logo a seguir os recursos financeiros esgotaram-se. Devido à falta de artigos sobre o
tema localizáveis na bireme, pois tanatologia e Cuidados Paliativos envolvem a colaboração de inúmeras profissões, eles são publicados nos periódicos e livros de todas elas, o que obrigaria os estudantes a pesquisarem em
bibliotecas de diversas faculdades profissionais, eu assumi a formatação em computador, da apostila. Ao findar
os cursos e palestras aos estudantes, eu entregava ao representante da turma um disquete contendo a “coletânea”
para que ele tirasse cópias nos disquetes que lhe fossem apresentados pelos seus colegas.
os temas foram propositadamente dispostos de maneira desordenada, para que o leitor fosse levado a folhear as páginas e a mentalizar os títulos, e a eles voltar a ler quando deles se lembrasse. todavia, eu acho que
umas explicações são necessárias antes da leitura de alguns textos:
1. Os seguintes textos deverão ser lidos na seqüência: O Cuidar no Processo de Morrer com Dignidade,
de Mara villas boas de Carvalho; Reflexões sobre a Leitura, de Mara villas boas de Carvalho por
Heloisa Helena; e Milagre, de Heloisa Helena;
2. A Última Grande Lição é um livro baseado em entrevistas de um jornalista, ex-aluno de um professor
de college americano de há muito afastados um do outro, nos últimos dias de vida deste, acometido
de esclerose lateral amiotrófica. Do livro, foram selecionados trechos das gravações para o aluno ler e
refletir;
3. A Roda da Vida é um livro autobiográfico de Elizabeth Kübler-Ross, fundadora da Tanatologia, cujos
trechos foram selecionados para leitura, reflexão e debate comigo.
Assim explanado, eu creio que a apostila irá desbravar ao estudante a maravilhosa filosofia humanitária
dos Cuidados Paliativos, e estimular o conhecimento da Morte, a última fase da vida terrena e passagem para
o nível superior transcendental.

Capelania Evangélica do HU comemora êxito no atendimento a pacientes

Capelania Evangélica do HU comemora êxito no atendimento a pacientes

Em pleno funcionamento há 13 anos, serviço visa dar apoio espiritual às pessoas internadas no Hospital Universitário da UFPB
http://www.agencia.ufpb.br/vernoticias.php?pk_noticia=12333
2010-12-29
Formar uma equipe de voluntários capazes de dar apoio espiritual aos internados. Foi com este objetivo que, em 1997, foi fundada a primeira Capelania Hospital Evangélica do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW), localizado na Universidade Federal da Paraíba, Campus de João Pessoa. Outro ponto levado em consideração é que fossem respeitados os limites que as normas do HU impõem aos visitantes no que se refere ao controle de infecção hospitalar e à preservação da privacidade dos pacientes.

 “Antes os evangélicos vinham de forma desorganizada visitar os pacientes. Essa desorganização estava atrapalhando e por causa disso os médicos não gostavam”, relembra Maria do Amparo Mota, assistente social da Clínica Médica, fundadora e atual diretora executiva da Capelania Hospitalar Evangélica do HU.

Passados treze anos, a Capelania hoje tem cerca de 60 voluntários de diversas formações profissionais e desenvolve várias atividades, desde a visitação aos leitos, distribuição de literatura cristã (através de convênio firmado com a Sociedade Bíblica Brasileira- SBB) e kits de higiene e limpeza. Além disso, a Capelania do HU promove eventos de confraternização em datas comemorativas.

O trabalho dos voluntários e da Capelania é reconhecido pelos pacientes. “Acho um trabalho muito bonito. É um conforto para quem está aqui internado, dá mais segurança. Todo paciente está ali [no leito] assustado, à espera da cirurgia. Quando chega alguém com esse trabalho, deixa a gente mais confortável”, afirmou João Silva de Campos, residente no município de Mamanguape, no Litoral Norte paraibano. Ele é trabalhador rural e vai se submeter a uma cirurgia de fígado.

Este reconhecimento também já existe por parte dos profissionais de saúde. A voluntária Francileide Rodrigues descreve a mudança de postura por parte da equipe profissional: “A enfermagem é muito aberta. Eles pedem para irmos aos leitos. Notam que a gente ajuda os pacientes,” afirmou. Já Juracema Ferreira, auxiliar de enfermagem, confirma a boa aceitação: “Esse trabalho é muito importante. Às vezes os pacientes estão perturbados no leito com a doença e não querem tomar o remédio. O voluntário conversa com ele, traz uma mensagem de esperança e o paciente se anima”, ressaltou.

Reconhecimento

O projeto não somente tem conquistado reconhecimento, como tem recrutado novos voluntários entre pacientes e acompanhantes. Francileide Rodrigues se entusiasmou com o projeto ao visitar a sogra da irmã que estava na UTI e hoje é responsável pela oficina de artesanato da capelania, que funciona todas as quartas-feiras. Outra voluntária, Irmã Tereza, 54 anos, aposentada, internou-se no HULW para tratar de um câncer de mama há nove anos. Hoje, curada, é responsável pelo Momento de Oração, realizado às quintas-feiras, no 2º andar do Hospital Universitário.

A Capelania Hospitalar Evangélica no Hospital Universitário da UFPB deu tão certo que o exemplo vem se espalhando pelos hospitais da Paraíba. Hoje, já existem seis outras capelanias no Estado: no Hospital Edson Ramalho; no Ortotrauma de Mangabeira; no Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena; e no Hospital Clementino Fraga, em João Pessoa, além do Hospital Geral de Campina Grande (Clipsi).

Capelania Evangélica: a espiritualidade como uma forma de humanização da assistência hospitalar

Capelania Evangélica: a espiritualidade como uma forma de humanização da assistência hospitalar



http://www.hulw.ufpb.br/node/336


Em 1997 a Paraíba teve fundada no Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW) a sua primeira Capelania Hospitalar Evangélica. O intuito da fundação era formar uma equipe de voluntários capazes de dar apoio espiritual aos internados, respeitando os limites que as normas do Hospital impõem aos visitantes no que se refere ao controle de infecção hospitalar e à preservação da privacidade dos pacientes.
        Maria do Amparo Mota, assistente social da Clínica Médica, fundadora e atual diretora executiva da Capelania Hospitalar Evangélica no HU, relembra como era a atuação dos evangélicos antes da entidade: “Antes os evangélicos vinham de forma desorganizada visitar os pacientes. Essa desorganização estava atrapalhando e por causa disso os médicos não gostavam.”
        Empenhada em resolver o problema que, de certa forma, passava uma ideia errada da prática protestante, Maria do Amparo procurou conhecer pessoalmente o bem sucedido trabalho de capelania evangélica do Hospital das Clínicas de São Paulo. Este trabalho até hoje é liderado e idealizado pela missionária Eleny Vassão, autora do livreto No leito da enfermidade.
        Inspirada na iniciativa de São Paulo, a assistente social buscou a formação necessária para fundar uma capelania no HULW.  Os evangélicos de todas as denominações passaram a ter uma entidade para organizar e preparar capelães e visitadores religiosos que quisessem atuar no nosso hospital.

Os frutos do trabalho

Passados treze anos, a Capelania hoje tem cerca de 60 voluntários de diversas formações profissionais e desenvolve várias atividades, desde a visitação aos leitos dos acamados, distribuição de literatura cristã (através de convênio com a Sociedade Bíblica Brasileira- SBB) e dekits de higiene e limpeza, até a realização de confraternizações em datas comemorativas.
        O trabalho dos voluntários e da Capelania é reconhecido pelos pacientes. “Acho um trabalho muito bonito. É um conforto para quem está aqui internado, dá mais segurança. Todo paciente está ali [no leito] assustado, à espera da cirurgia. Quando chega alguém com esse trabalho, deixa a gente mais confortável”, afirmou João Silva de Campos, 40 anos, de Mamanguape, trabalhador rural internado para realizar uma cirurgia de fígado.
        Este reconhecimento também já existe por parte dos profissionais de saúde. A voluntária Francileide Rodrigues, 42, descreve a mudança de postura por parte da equipe profissional: “A enfermagem é muito aberta. Eles pedem para irmos aos leitos. Notam que a gente ajuda os pacientes.” Juracema Ferreira, auxiliar de enfermagem, confirma a boa aceitação: “Esse trabalho é muito importante. Às vezes os pacientes estão perturbados no leito com a doença e não querem tomar o remédio. O voluntário conversa com ele, traz uma mensagem de esperança e o paciente se anima”.
                O projeto não somente tem conquistado reconhecimento, como tem recrutado novos voluntários entre pacientes e acompanhantes. Francileide se entusiasmou com o projeto ao visitar a sogra da irmã que estava na UTI e hoje é responsável pela oficina de artesanato da capelania, que funciona todas as quartas-feiras. Outra voluntária, Irmã Tereza, 54 anos, aposentada, internou-se no HULW para tratar de um câncer de mama há nove anos. Hoje, curada, é responsável pelo Momento de Oração, realizado às quintas-feiras, no 2º andar.

A experiência é reproduzida em outros hospitais

        A Capelania Hospitalar Evangélica no HU deu tão certo que o exemplo vem se espalhando pelos hospitais da Paraíba. Hoje, já existem seis outras capelanias no estado: no CLIPSI - Hospital Geral de Campina Grande; no Hospital Edson Ramalho; no Ortotrauma de Mangabeira; no Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena; e no Hospital Clementino Fraga.

A Humanização hospitalar SUS


Prof. Esp. Tania Aparecida dos Reis



http://www.redehumanizasus.net/771-a-humanizacao-hospitalar
"A humanização do atendimento hospitalar requer mudança de valores, comportamento, conceitos e práticas, exigindo do atendente um reposicionamento no que se refere ao atendimento aos usuários. Essa postura está obrigando o Sistema Único de Saúde a investir em treinamento de todos os seus colaboradores.
É possível compreender que a humanização é uma nova visão de atendimento ao paciente/usuário/colaborador/gestor, possibilitando um trabalho de melhor qualidade, visto que:
"Humaniza-os" porque os torna mais ricos em humanidade, em sensibilidade, em afetividade. "Humaniza-os" ´porque traz á tona sua grandeza, sua força, sua sabedoria. "Humaniza-os" porque lhes permite a experiência do mistério da vida, da dor e da vitória, do risco e da alegria. "Humaniza" o médico e os demais profissionais dando-lhe mais profundidade de compreensão do processo da doença e sua prevenção, mais segurança para lidar com ele, tornando-os pessoas mais plenas(JAKOBI,2004, p.1).
Entende-se que a humanização é uma ação complexa visto que o indivíduo não pode ser considerado humanizado somente pelo seu conhecimento, mas sim a forma com que usa esse saber, no caso dos servidores dos hospitais em benefívio a saúde dos pacientes e a qualidade do ambiente. É neste momento que se compreende a importância da subjetividade no trabalho dos profissionais da saúde.
A humanização para Mezomo (2001, p.7) é "tudo quanto seja necessário para tornar a instituição adequada à pessoa humana e a salvaguarda de seus direitos fundamentais", ou seja, pode-se dizer que a humanização é um movimento de ação solidária em prol de uma produção de saúde digna para todos, cooperando com as pessoas, buscando reciprocidade e ajuda mútua."

MÚSICAS NOS HOSPITAIS


http://www.musicanoshospitais.pt/
O que é a música no Hospital e ambiente de saúde?


Definição

  • um acto musical autêntico e uma atitude de escuta;
  • uma música partilhada e um ambiente sonoro enriquecido;
  • uma estreita interacção entre os músicos, os doentes, as famílias e as equipas hospitalares;
  • uma parceria entre profissionais da saúde e da cultura;
Finalidade
  • integra o projecto de humanização do hospital;
  • colabora na melhoria da qualidade de vida de todos (utentes e profissionais) no hospital;
  • sensibiliza e estimula para novas experiências artísticas e culturais;
Os músicos actuantes
Os músicos actuantes são verdadeiros profissionais, competentes, especificamente formados para a actuação em meio hospitalar:
  • adquirindo competências relacionais, sabem inserir a sua acção num projecto do serviço;
  • assimilando conhecimentos sobre as regras e o funcionamento dos diversos serviços hospitalares, adaptam-se aos serviços, respeitando as indicações específicas e as regras de funcionamento;
  • adquirindo competências de gestão de projectos, organizam e desenvolvem acções de música no hospital;
  • desenvolvendo um trabalho psicológico sobre a dor, o stress, a solidão, a ruptura, a angústia ou a morte, adquirem mecanismos de partilha e de interacção com as diversas pessoas no hospital.
Os músicos utilizam:
  • instrumentos musicais;
  • voz;
  • objectos sonoros;
  • gravações sonoras.
Os músicos realizam:
  • música para utentes, familiares e profissionais das instituições;
  • música com utentes, familiares e profissionais das instituições;
  • a organização da vinda de músicos externos ao projecto para a realização de eventos culturais em instituições hospitalares e de solidariedade.
Os músicos propõem igualmente outras acções nas instituições:
  • formação dos profissionais para interacção musical com os utentes;
  • intervenção sobre o ambiente sonoro da instituição;
  • exposições de construções sonoras;
  • concertos nas instituições.

As intervenções acontecem semanalmente, e podem durar entre 2h a 3h. Uma dupla de músicos circula pelos serviços, interagindo com utentes, familiares/ acompanhantes e profissionais, contribuindo para a humanização dos espaços.

« O dia começa com a preparação do “carrinho musical” recheado de instrumentos particulares. Afina-se a guitarra e os primeiros acordes, de mãos dadas com a voz, começam a entoar um “gato xiu” que, aos poucos, vai espreitando pelas portas encostadas dos quartos da maternidade. Profissionais e pacientes são convidados a participar, improvisando, cantando, tocando, e, o mais importante, são convidados a sorrir e partilhar emoções. Naquele momento, o ambiente hospitalar transforma-se num palco de criação. São momentos de alegria, mas também, de companhia nas horas de dor, que estes profissionais levam até ao Hospital. » – relato da observação de uma intervenção por Gabriela Fernandes, estudante de Medicina
Noutra vertente da intervenção, procuramos desenvolver projectos e acções musicais de carácter diferente, que no âmbito da nossa missão procuram promover as actividades culturais e artísticas nas instituições. Como exemplo, podemos referir a actuação dum grupo de pequenos violoncelistas numa Pediatria, a construção de uma cadeira de rodas sonora num Lar de Idosos, ou a gravação dum CD num Centro de Acolhimento de Jovens.
Conheça mais projectos…

  1. Formação de músicos para intervirem nas instituições parceiras, através do Curso de Especialização de Músicos Intervenientes;
  2. Formação junto de profissionais de instituições hospitalares, instituições de educação e de cuidados especiais, públicas e privadas, no domínio da saúde, da educação e da acção social, particularmente dirigidas a crianças, idosos e grupos de risco;
  3. Formação ao público em geral
Também estamos presentes em reuniões, conferências, colóquios, congressos, seminário