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Capelania Evangélica do Rio de Janeiro

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Luto – Que dor é essa?

Luto – Que dor é essa?
Andréia Roos

Tristeza... Dor... Sofrimento... Faz pensar. Inquieta-nos. Remete a desafios, a enfrentar, a lutar, a crescer, a ser.
Mas isto não é tão simples assim.

Ser implica em movimentos de renúncia onde a inevitável dor faz parte da condição humana; mas também envolve ganhos, possibilidades, crescimento. Se prestarmos atenção é comum ouvirmos uma criança evocar o desejo de ser grande.

Desajeitado no caminhar, de repente o menino aparece com um calçado muito maior que seu pé: é o chinelo do pai; a menina aparece borrada de batom carregando uma bolsa arrastando no chão, experimentando ser como a mãe. Desejar ser grande, crescer, reconhecer-se como um sujeito separado, diferenciado, com possibilidade de escolhas instiga e convoca a desinvestimentos, desligamentos e substituições.

São movimentos lentos, peça por peça como um quebra-cabeça que se desmonta e se volta a montar. A condição da existência humana implica desligamentos, renúncias, e neste sentido podemos dizer que envolve um trabalho de luto.

O que é o luto? De maneira geral expressa a reação à perda de uma pessoa querida. Ao refletirmos essa palavra, veremos que em espanhol significa duelo. Nos faz pensar em luta, combate, mas também em DU – ELO, marcando, acentuando a existência de um elo, de uma ligação, de uma relação entre duas pessoas.

No luto, ao perceber que a pessoa querida não existe mais, o sujeito inicia um processo de desligamento. Esse desligamento, renúncia não é realizado sem obstáculos, sem resistência, causa um grande sofrimento para a pessoa.

E acometidos, tomados por essa dor, à energia se volta para elaboração do luto. É assim que diante da morte de uma pessoa querida, a energia que antes era dirigida ao trabalho se volta para essa dor; havendo então por um período temporário uma inibição, perda de interesse pelo mundo externo para elaboração luto.

Há uma entrega ao luto, ao combate desse elo que consiste em desatar essa ligação até o momento em que se possa investir em novos projetos e interesses. Essa retirada da libido, essa renúncia não é um processo que pode ser realizado num momento. É um processo lento, vagaroso, gradativo. A dor transforma-se em saudade...

No mundo atual, as dificuldades de enfrentar as dores da vida, o sofrimento, a tristeza, a renúncia se tornam cada vez mais comuns. Muitas vezes percebemos uma necessidade nas pessoas em uma busca frenética por alternativas que servem para "amortecer", para "aplacar" essas dores, como por exemplo, o consumo desenfreado de roupas, carros ou até mesmo de drogas. Os sentimentos não deixam de existir. E então? Pensar... enfrentar... olhar... peça por peça, montar e desmontar encaixando as "peças" na cabeça.

Publicado em 21/12/2004

Andréia Roos - Psicóloga
Projeto - Associação Científica de Psicanálise - Passo Fundo - RS

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