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Capelania Evangélica do Rio de Janeiro

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Oncologistas se sentem despreparados para lidar com a morte

Oncologistas se sentem despreparados 
para lidar com a morte
http://www.usp.br/agen/?p=6215
http://www.usp.br/agen/wp-content/themes/agen/images/data.gifPublicado em 16/setembro/2008 | http://www.usp.br/agen/wp-content/themes/agen/images/editoria.gifEditoria

Estudo da psicóloga Lílian Cláudia Ulian Junqueira, desenvolvido na  Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, revelou que médicos oncologistas sentem a falta de abordagem das várias dimensões do ser humano no ensino de graduação. O estudo aponta que os médicos, apesar da marca positivista na formação, já enxergam além dos aspectos orgânicos do paciente. “Além da formação acadêmica, o profissional precisa entender a própria finitude para poder olhar as várias dimensões do paciente que vivencia sua terminalidade”, diz a pesquisadora.
Na pesquisa, orientada pelo professor Manoel Antônio dos Santos, da FFCLRP, Lílian entrevistou oito oncologistas. Para a coleta e análise dos dados utilizou o método fenomenológico, que se propõe a ir à essência das coisas, valorizando para tanto a descrição que cada participante do estudo oferece de suas vivências. Os resultados revelaram que os médicos têm uma abertura para a compreensão da experiência religiosa do paciente. No entanto, o fazem com muita dificuldade e ambigüidade quanto às condutas a serem adotadas, o que os faz transitar entre o cuidar autêntico e o inautêntico.
“Apareceram momentos em que eles se sentiram desconfortáveis ou mesmo irritados, por exemplo, quando o tratamento é preterido pelo paciente, que o coloca em segundo plano, justamente na hora em que se esperava adesão à terapêutica instituída. Nesses casos, as possibilidades de cura são delegadas a Deus. Nessa hora, o profissional se sente impotente e destituído de importância”, conta Lílian. “Em outros momentos, eles perceberam que o paciente necessita do movimento de se ‘religar’ com o transcendental, que a religiosidade propõe, lembrando aqui da origem etimológica do termo religião”.
De acordo com a psicóloga, os médicos contam que respeitam as crenças dos pacientes porque sabem que, com isso, conseguirão se aproximar deles e, assim, poderão levar o tratamento em paralelo à busca de apoio espiritual. “O médico percebe que a espiritualidade pode ser uma excelente aliada na luta contra as adversidades e o sofrimento, que são inerentes ao adoecimento por câncer”, acrescenta.
Sofrimento
Lílian aponta que o estudo procurou fornecer subsídios para o planejamento de intervenções terapêuticas e pode contribuir, principalmente, na aproximação com o paciente em situação de sofrimento. “Muitas vezes os profissionais, que estão numa posição de acolher tanta dor e sofrimento, não têm com quem compartilhar seus sentimentos. Não dispõem de um espaço formal para cuidarem de si”, alerta. “Por essa razão, eles apontam a necessidade  de maior atenção à dimensão psicológica do ser humano no currículo de  graduação em Medicina, o que é recomendado pela filosofia dos cuidados paliativos”.
Segundo a psicóloga, com o amadurecimento do profissional, por mais que ele traga a marca positivista da formação, acaba olhando o paciente como ser humano, um ser integral e, portanto, um ser de possibilidades. “A maioria tem uma família constituída, pratica alguma atividade de lazer, ou seja, vivencia outros aspectos da vida, o que é fundamental para que enxergue também outras dimensões no paciente”, afirma.
Lílian observa ainda que o aprofundamento contemporâneo da questão da bioética, também fez surgirem muitas dúvidas e o próprio médico não tem um parâmetro claro dos limites, ou esses limites não estão tão claros. “O médico, no decorrer de sua formação e de sua prática, exercita forte obstinação terapêutica”, ressalta. “Mas, se ele começa a pensar na sua própria finitude, automaticamente vai pensar no outro, no que é morrer  bem, do ponto de vista biopsicossocial e espiritual”.
Essas questões são abordadas em profundidade na disciplina O Câncer, a Morte e o Morrer, oferecida anualmente pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia, da FFCLRP.Os resultados da pesquisa serão apresentados ainda este mês para obtenção do título de mestre junto ao Programa de Pós-graduação em Psicologia da FFCLRP. Os resultados preliminares do estudo, no entanto, já foram premiados, em agosto, no X Congresso da Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia e III Encontro Internacional de Psico-Oncologia e Cuidados Paliativos, realizados em Fortaleza, Ceará. A pesquisadora recebeu o primeiro lugar entre as comunicações orais e obteve a segunda colocação entre os pôsteres apresentados.
Para o orientador da pesquisa, os prêmios recebidos significam o reconhecimento da área de Psico-oncologia e revelam a necessidade de novas pesquisas para desvelar as percepções de um profissional que é chave nos serviços de saúde e que ainda ocupa uma função crucial dentro da assistência em oncologia, mesmo em época de multi e interdisciplinaridade. “Cuidar transcende o simples tratar, pois abarca, além das dimensões físicas, as demandas emocionais, espirituais, sociais, culturais e éticas do doente”, ressalta Manoel Antônio dos Santos. “Cuidar de alguém que vivencia sua finitude exige uma assistência que não seja centralizada nas necessidades físicas e no alívio da dor somente, mas que tende a ver a integralidade do ser, em seu caráter de impermanência”.

(Fonte: Rosemeire Soares Talamone, do Serviço de Comunicação Social da Prefeitura do Campus de Ribeirão Preto)
Mais informações: e-mail masantos@ffclrp.usp.br


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