Oncologistas se
sentem despreparados
para lidar com a morte
http://www.usp.br/agen/?p=6215
Publicado em 16/setembro/2008 | Editoria
Publicado em 16/setembro/2008 | Editoria
Estudo da psicóloga Lílian Cláudia Ulian Junqueira, desenvolvido na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de
Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, revelou que médicos oncologistas sentem a falta
de abordagem das várias dimensões do ser humano no ensino de graduação. O
estudo aponta que os médicos, apesar da marca positivista na formação, já
enxergam além dos aspectos orgânicos do paciente. “Além da formação acadêmica,
o profissional precisa entender a própria finitude para poder olhar as várias
dimensões do paciente que vivencia sua terminalidade”, diz a pesquisadora.
Na pesquisa, orientada pelo professor Manoel Antônio dos Santos, da
FFCLRP, Lílian entrevistou oito oncologistas. Para a coleta e análise dos
dados utilizou o método fenomenológico, que se propõe a ir à essência das
coisas, valorizando para tanto a descrição que cada participante do estudo
oferece de suas vivências. Os resultados revelaram que os médicos têm uma
abertura para a compreensão da experiência religiosa do paciente. No entanto, o
fazem com muita dificuldade e ambigüidade quanto às condutas a serem adotadas,
o que os faz transitar entre o cuidar autêntico e o inautêntico.
“Apareceram momentos em que eles se sentiram desconfortáveis ou mesmo
irritados, por exemplo, quando o tratamento é preterido pelo paciente, que o coloca
em segundo plano, justamente na hora em que se esperava adesão à terapêutica
instituída. Nesses casos, as possibilidades de cura são delegadas a Deus. Nessa
hora, o profissional se sente impotente e destituído de importância”, conta
Lílian. “Em outros momentos, eles perceberam que o paciente necessita do
movimento de se ‘religar’ com o transcendental, que a religiosidade propõe,
lembrando aqui da origem etimológica do termo religião”.
De acordo com a psicóloga, os médicos contam que respeitam as crenças
dos pacientes porque sabem que, com isso, conseguirão se aproximar deles e,
assim, poderão levar o tratamento em paralelo à busca de apoio espiritual. “O
médico percebe que a espiritualidade pode ser uma excelente aliada na luta
contra as adversidades e o sofrimento, que são inerentes ao adoecimento por
câncer”, acrescenta.
Sofrimento
Lílian aponta que o estudo procurou fornecer subsídios para o planejamento de intervenções terapêuticas e pode contribuir, principalmente, na aproximação com o paciente em situação de sofrimento. “Muitas vezes os profissionais, que estão numa posição de acolher tanta dor e sofrimento, não têm com quem compartilhar seus sentimentos. Não dispõem de um espaço formal para cuidarem de si”, alerta. “Por essa razão, eles apontam a necessidade de maior atenção à dimensão psicológica do ser humano no currículo de graduação em Medicina, o que é recomendado pela filosofia dos cuidados paliativos”.
Lílian aponta que o estudo procurou fornecer subsídios para o planejamento de intervenções terapêuticas e pode contribuir, principalmente, na aproximação com o paciente em situação de sofrimento. “Muitas vezes os profissionais, que estão numa posição de acolher tanta dor e sofrimento, não têm com quem compartilhar seus sentimentos. Não dispõem de um espaço formal para cuidarem de si”, alerta. “Por essa razão, eles apontam a necessidade de maior atenção à dimensão psicológica do ser humano no currículo de graduação em Medicina, o que é recomendado pela filosofia dos cuidados paliativos”.
Segundo a psicóloga, com o amadurecimento do profissional, por mais que
ele traga a marca positivista da formação, acaba olhando o paciente como ser
humano, um ser integral e, portanto, um ser de possibilidades. “A maioria tem
uma família constituída, pratica alguma atividade de lazer, ou seja, vivencia
outros aspectos da vida, o que é fundamental para que enxergue também outras
dimensões no paciente”, afirma.
Lílian observa ainda que o aprofundamento contemporâneo da questão da
bioética, também fez surgirem muitas dúvidas e o próprio médico não tem um
parâmetro claro dos limites, ou esses limites não estão tão claros. “O médico,
no decorrer de sua formação e de sua prática, exercita forte obstinação
terapêutica”, ressalta. “Mas, se ele começa a pensar na sua própria finitude,
automaticamente vai pensar no outro, no que é morrer bem, do ponto de vista biopsicossocial e
espiritual”.
Essas questões são abordadas em profundidade na disciplina O Câncer,
a Morte e o Morrer, oferecida anualmente pelo Programa de Pós-graduação em
Psicologia, da FFCLRP.Os resultados da pesquisa serão apresentados ainda este
mês para obtenção do título de mestre junto ao Programa de Pós-graduação em
Psicologia da FFCLRP. Os resultados preliminares do estudo, no entanto, já
foram premiados, em agosto, no X Congresso da Sociedade Brasileira de
Psico-Oncologia e III Encontro Internacional de Psico-Oncologia e
Cuidados Paliativos, realizados em Fortaleza, Ceará. A pesquisadora recebeu
o primeiro lugar entre as comunicações orais e obteve a segunda colocação
entre os pôsteres apresentados.
Para o orientador da pesquisa, os prêmios recebidos significam o
reconhecimento da área de Psico-oncologia e revelam a necessidade de novas
pesquisas para desvelar as percepções de um profissional que é chave nos
serviços de saúde e que ainda ocupa uma função crucial dentro da assistência em
oncologia, mesmo em época de multi e interdisciplinaridade. “Cuidar transcende
o simples tratar, pois abarca, além das dimensões físicas, as demandas
emocionais, espirituais, sociais, culturais e éticas do doente”, ressalta
Manoel Antônio dos Santos. “Cuidar de alguém que vivencia sua finitude exige
uma assistência que não seja centralizada nas necessidades físicas e no alívio
da dor somente, mas que tende a ver a integralidade do ser, em seu caráter de
impermanência”.
(Fonte: Rosemeire Soares Talamone, do Serviço de Comunicação Social da Prefeitura do Campus de Ribeirão Preto)
(Fonte: Rosemeire Soares Talamone, do Serviço de Comunicação Social da Prefeitura do Campus de Ribeirão Preto)
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