http://www.redenacionaldetanatologia.psc.br/Artigos/materia_04.htm
Quando as esperanças se
renovam ante a perda e o luto
Diário do Nordeste – 08/05/2005
“Trabalhar com morte e luto é
lidar com emoções”, afirma o psicólogo Aroldo Escudeiro, do Centro de Estudos
em Tanatologia e Psicologia. Ele foi um dos palestrantes do III Congresso
Brasileiro de Tanatologia e Bioética, realizado no último final de semana, em
São Paulo, onde participou do Simpósio “Trabalhar com morte e luto hoje”.
Juntamente com Ingrid Esslinger, do Laboratório de Estudos da Morte, do
Instituto de Psicologia da USP, e Ester Passos Affini, do Grupo Ipê de Estudos
sobre Perdas e Apoio a Pessoas Enlutadas, ambas da USP, Escudeiro compartilhou
a rica experiência vivenciada pelos profissionais que lidam com os diferentes
tipos de perdas e luto. “Como cuidadores devemos estar preparados para este
enfrentamento e cuidarmos também de nossas questões pessoais em relação à morte
e às nossas perdas, para que possamos cuidar bem de nossos pacientes”. Como
lidar com a perda, seja ela concreta (morte) ou simbólica (separação), é uma
tarefa árdua para todos já que difícil quantificar a dor que o outro sente. O
psicólogo cearense indica os vários caminhos, através da literatura e do
cinema, para que possamos entender a linha tênue que aproxima a vida e a
finitude.
Diário do Nordeste Amor e
perda é sempre uma relação difícil de ser trabalhada. No caso específico da mãe
que perde o filho; e do filho que perde sua genitora, como tratar o luto?
Dr. Aroldo Escudeiro O enlutado por qualquer tipo de perda deve ter
a mesma atenção e cuidados por parte de quem o acompanha, seja o terapeuta, a
família ou a sociedade. Perda significa privação e qualquer pessoa que passe
por uma privação sente-a como a pior dor do mundo. Não podemos mensurar a dor
do outro. Em qualquer tipo de perda, seja ela concreta (morte) ou simbólica
(separação), é muito difícil quantificar a dor que a pessoa sente. No caso
específico da perda de um filho, em minha prática e também segundo a literatura,
o processo do luto é mais delicado pois a lei natural nos mostra que o mais
freqüente é os filhos enterrarem os pais. Quanto a perda da mãe, por parte do
filho, as conseqüências em relação ao processo do luto vai variar conforme a
idade desse filho. É certo que para qualquer filho em qualquer faixa etária, a
perda mais difícil de enfrentar é a da mãe e por vezes a do pai. Quando se tem
um filho a situação se inverte. Se a perda é obsetal o luto tem grande
probabilidade de provocar um quadro depressivo na fase adulta. O luto pressupõe
sofrimento. O difícil para quem o vive é expressá-lo devido a interdição
cultural e social.
Como deve acontecer este ´desapego” ?
Como deve acontecer este ´desapego” ?
Dr. Aroldo Escudeiro- O ideal é que a pessoa se desapegue em vida
de tudo e de todos. Coisas e pessoas. Afinal, estamos aqui de passagem e tudo
nos é emprestado - até os filhos e os pais. Como a morte é para quem fica, após
a perda de alguém significativo devemos vivenciar o processo do luto. Bowlby
nos fala de fases desse processo. A primeira, o entorpecimento, a sensação de
torpor nos defende por algumas horas. A segunda, o anseio e busca da figura
perdida que dura meses e anos. É comum e natural o enlutado vê sinais da pessoa
falecida em tudo. Ele escuta a voz do morto o chamando, sente o cheiro, sonha
muito freqüentemente, escuta passos e tem a impressão de que o morto está
presente. A terceira é a desorganização e desespero, o momento de enfrentamento
da realidade, o que é muito difícil para a pessoa que perdeu. A quarta fase é a
reorganização pois a natureza é sábia e não nos deixa na mão. É o momento de
resignificar a vida. Adotar novos papéis.Worden nos fala em tarefas. A primeira
é aceitar a realidade; a segunda é trabalhar a dor da perda; a terceira se
adaptar ao local onde vivia com a pessoa falecida e a quarta é reposicioná-la
em termos emocionais. Isso significa se dar o direito a outras experiências
afetivas.
Quais as últimas pesquisas sobre os aspectos psicológicos do luto?
Quais as últimas pesquisas sobre os aspectos psicológicos do luto?
Dr. Aroldo Escudeiro- Alguns trabalhos sobre aspectos psicológicos
do luto foram lançados no III CBTB. Entre eles: “Luto materno e psicoterapia
breve”, de Meliklix Freitas (Summus Editorial); “Grupo de suporte ao luto”, de
Evaldo D´Assumpção (Paulinas); “Luto na infância”, de Luciana Mazzora e Valéria
Tinoco (Livro Pleno); “Dor sileciosa ou dor silenciada”, de Gabriela Casellato
(Livro Pleno); e “A criança e a morte”, de Wilma Torres (Casa do Psicólogo).
Quais as mais esperadas e
inesperadas reações frente à perplexidade que a morte pode nos causar?
Dr. Aroldo Escudeiro- As reações mais esperadas frente a morte são:
entorpecimento, estarrecimento, ilusão, desespero, descrença. As inesperadas
podem levar a confusão mental, depressão, reações psicossomáticas e até surto
psicótico.
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