C A H E R J

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Capelania Evangélica do Rio de Janeiro

sábado, 17 de setembro de 2011

Sofrimento da equipe de saúde no contexto hospitalar: cuidando do cuidador profissional

http://www.saocamilo-sp.br/novo/publicacoes/publicacoesDowload.php?ID=79&rev=s&ano=2010
http://www.saocamilo-sp.br/pdf/mundo_saude/79/420.pdf

Sofrimento da equipe de saúde no contexto hospitalar:
cuidando do cuidador profissional
Suffering of the health team in a hospital context: caring for professional carers
Sufrimiento del equipo de salud en el contexto hospitalario:
cuidando del cuidador profesional.



ReSumo: Este artigo aborda o tema da morte no século XXI, como profissionais de saúde a enfrentam, as consequências na sua saúde física e psíquica.
A morte é vista como inimiga, oculta, vergonhosa, ferindo a onipotência do homem moderno. É tema interdito, provocando entraves na comunicação entre pacientes, familiares e profissionais. Com o avanço da medicina, a morte ocorre no hospital. O cotidiano dos profissionais de saúde frente à morte
envolve escolhas difíceis de serem realizadas, gerando estresse adicional. Na mentalidade da morte interdita não se autoriza a expressão de emoções e dor, levando ao adoecimento e aumento dos casos de depressão, aumentando a incidência da Síndrome de Burnout entre profissionais. Os profissionais
de saúde escolhem trabalhar com a morte e o morrer, trazendo sua forma pessoal de lidar com dor e perdas. Não conseguir evitar a morte ou aliviar o sofrimento traz ao profissional a vivência de sua finitude. Estabelece-se relação entre intenso estresse, colapso e luto não reconhecido. Alguns profissionais não aceitam e reconhecem seu luto. Os programas de cuidados paliativos procuram modificar esta disfunção ao estimular o trabalho de equipe nos cuidados ao paciente e à família. Uma proposta de cuidados ao cuidador é apresentada com os seguintes objetivos: a) Aquecimento e sensibilização para abordar as dificuldades principais; b) Aprofundamento do tema trazido pelo grupo; c)Planejamento dos cuidados ao cuidador pensado pela equipe de trabalho, tendo em vista suas necessidades; d) A metodologia utilizada durante as diversas fases do trabalho atividades em grupo. Uma modalidade de cuidado é o plantão psicológico, facilitando o crescimento e o desenvolvimento da pessoa, envolvendo empatia, aceitação e congruência. Oferece espaço de escuta, contando com pessoas qualificadas no momento em que se busca ajuda, acolhendo a demanda. Outras formas de cuidados são apresentadas: atividades de lazer, psicoterapia e cuidados psicológicos, cursos e workshops favorecendo a aprendizagem significativa, supervisão individual e grupal para casos
difíceis, refletindo-se sobre cuidados, favorecendo o trabalho de equipe.
PalavRaS-chave: Cuidadores. Profissionais da saúde. MortE



a morte e o luto hoje
Nos séculos XXI a morte é vista como inimiga, oculta, vergonhosa, que fere a onipotência do homem
moderno

 É considerada tema interdito, provocando entraves na .comunicação entre pacientes, familiares e profissionais. Oculta-se a morte com estratégias defensivas. Interditar a morte oferece poder ilusório àquele profissional, que acredita que pode combatê-la, escancarado sua fragilidade.
A morte pode ser vista como fato natural, parte da vida ou como inimiga a ser vencida a qualquer
custo. Os “combatentes” da morte na atualidade são os profissionais de saúde, principalmente médicos aos quais se atribui (e alguns se atribuem), o papel de donos da vida e da morte
2,3,4
.
Em função do avanço da medicina, o local da morte deixa de ser a casa para ocorrer no hospital; o doente não é mais visto como pessoa, não tendo mais direito de planejar seu final de vida e a morte. A família que vive seu sofrimento pode ser considerada presença incômoda.
O conceito de morte roubada ao paciente é de Marie de Henneze
,cujo trabalho durante anos, foi o de acompanhar pacientes em Unidades de Cuidados Paliativos. Diferencia três situações:
a) A morte roubada ao paciente: neste tipo de morte, o paciente não consegue exercer
seu direito de autonomia, ter sua vontade respeitada, ter possibilidade de se autogovernar e ter participação ativa no seu processo terapêutico. Para não ocorrer morte roubada, o diálogo entre equipe de saúde, paciente e familiares é de suma importância, e as informações dadas pelo médico devem
ser claras e acessíveis, sem ocultar a verdade. É necessário esclarecer sobre diagnóstico, prognóstico, efeitos colaterais de tratamentos e medicamentos, o que permitirá que se faça escolhas adequadas.
b) A morte pedida pelo paciente. Segundo Hennezel, o pedido do paciente para morrer,
precisa ser compreendido, pois pode não ser desejo de morte, e sim, alívio de sintomas ou acolhimento de sofrimento, que pode não estar sendo tratado de forma adequada pela equipe de saúde.
É importante que o sofrimento seja entendido em seus aspectos físicos, sociais,
espirituais e emocionais. A comunicação entre paciente, familiares e equipe de saúde é um dos principais eixos no tratamento do paciente.
c) A morte exigida pelo paciente. É o pedido para morrer de fato, uma abreviação da
vida. Pode se relacionar à interrupção de tratamentos obstinados e fúteis ou um
pedido de eutanásia.Seja qual for a dimensão do pedido do paciente o que se espera
é a escuta e compreensão do que está sendo comunicado, mesmo que não se atenda o seu pedido.
Levando em consideração o que Hennezel propõe parece ficar evidenciado o cotidiano dos profissionais de saúde frente às situações de morte, que envolvem escolhas nem sempre fáceis e possíveis de serem realizadas (até em termos legais), o que pode gerar na equipe de saúde, um estresse adicional. Profissionais afirmam que é difícil efetuarem procedimentos com os quais não concordam, principalmente quando causam sofrimento adicional ao paciente, configurando a distanásia.


Na situação da morte roubada ao paciente, rouba-se também a possibilidade de despedidas, término de projetos, pedidos de perdão, dificulta-se ao paciente e familiares, o luto antecipatório, como definido por Rando
Jann . em sua dissertação de mestrado intitulada:
Enfrentando o morrer: a experiência de luto(a) do paciente com câncer avançado e seus familiares apresenta os conceitos e controvérsias envolvendo o termo, destacando o valor adaptativo das reações de luto, antes da morte propriamente dita.
O luto antecipatório segundo Pine ocorre ao longo de um continuum, que vai do momento da
notícia de uma doença grave, até o momento da concretização da morte. Além dos familiares e do paciente, os profissionais de saúde vivem  lutos   cot idianos  em  sua prática profissional. Será que eles têm direito de expressar sua dor?
Em seu processo de formação são oferecidas possibilidades teóricas e experienciais para lidar com dor,
perdas e morte? Na década de 1950 observa-se contestação da abordagem defensiva em relação à morte. Elisabeth Kübler-Ross e Cicely Saunders p r o p õ em  a   r e h uma n i z a ç ã o   d a morte

 Cuida-se dos sintomas e .do sofrimento na esfera psicossocial e espiritual, o doente é centro dos
cuidados, incluindo-se a família no tratamento. Esta mentalidade permitiu o desenvolvimento dos
cuidados paliativos.
Segundo Pessini há dois paradigmas nas ações de saúde: o curar e o cuidar. No paradigma envolvendo a cura o investimento é para salvar vidas. No paradigma do cuidar a morte é aceita como parte
da condição humana. Qualidade de vida em suas várias dimensões é preocupação dos profissionais afinados com este paradigma.
Pessoas com doença grave podem sentir medo do fim da vida. O que se tornou tão assustador para

que pessoas tenham tanto medo do processo de morrer? Observamse alterações significativas das formas de morrer nos últimos anos. Há predominânc ia de doenças crônicas: cardiopatias, neoplasias, 
doenças sexualmente transmissíveis, enfermidades neurológicas e demências. O temor de que haja 
supertratamento nas Unidades de Terapia Intensiva, acompanhado de dor e sofrimento está presente 
na população em geral e também em pacientes gravemente enfermos .  Talvez  es te  seja o mot ivo 
para se falar tanto sobre eutanásia e suicídio assistido, como forma de evitar obstinação terapêutica, 
o prolongamento do processo de morrer com muito sofrimento.


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